sexta-feira, 30 de março de 2012

Lampião em Mossoró sob o olhar do Historiador Raimundo Nonato


Em 1955, o historiador Raimundo Nonato da Silva publicou Lampião em Mossoró, com selo da Pongetti, terceiro volume da Série C (livros), da Coleção Mossoroense, com edição esgotada em um mês. É a primeira publicação sobre a presença do rei do cangaço em Mossoró.
            Tudo aconteceu dia 13 de junho, fim de tarde de uma segunda-feira chuvosa, quando Lampião entrou em Mossoró, perdeu dois cangaceiros e colecionou sua maior derrota.
            Dizem que o culpado foi Macilon, que fez a cachola de Virgulino, dizendo ser negócio atacar a terra de Santa Luzia.
            Lampião em Mossoró é um dos poucos livros sobre o cangaço embasado em documentos. Tem o depoimento de Jararaca, publicado no Mossoroense, nominando 45 cangaceiros que participaram do ataque; a reprodução fac-similar do bilhete de Lampião ao prefeito de Mossoró, dia 13 de junho; uma fotografia com os defensores da cidade e a presença do prefeito Rodolfo Fernandes; o diário do coronel Antônio Gurgel, que ficou 16 dias sequestrado pelo bando e escreveu um rico diário, de 12 a 28 de junho de 1927; o processo contra Lampião, em Pau dos Ferros, que ficou aberto de 1927 a 2008, quando Sérgio Dantas, juiz e pesquisador do cangaço, encerrou essa pendenga.
            Raimundo Nonato da Silva, renomado historiador norte-rio-grandense, também é o mais injustiçado da província. Em 2003, o Governo do Estado e Diário de Natal publicaram dez fascículos sobre as personalidades do oeste potiguar, mas acabaram esquecendo o nome e a importância do autor de Lampião em Mossoró.
            Segundo a Bibliografia do Rio Grande do Norte, a enciclopédia da literatura norte-rio-grandense, de Francisco Fernandes Marinho, Raimundo Nonato teve 96 livros editados e reeditados, com muitos títulos de importância nacional, como Quarteirão da Fome (1949), A Revolução de Trinta em Serra Negra (1955), Lampião em Mossoró (1955), Estórias de Lobisomem (1959), Bacharéis de Olinda e Recife (1960), Os Revoltosos em São Miguel (1966), Presença Norte-rio-grandense na Alçada Pernambucana (1971), Jesuíno Brilhante – O Cangaceiro Romântico (1970) e Calepino Potiguar (1980).
            Raimundo Nonato da Silva nasceu em Martins (RN), em 18/08/1907, e faleceu no Rio de Janeiro, em 22/08/1993.

  Abimael Silva  
 Sebista e editor
O jornalista e escritor Carlos de Souza promove novo lançamento de seu recém-publicado romance "Cidade dos Reis" (FJA/R$ 20) neste próximo sábado (31), a partir das 11h, no Sebo Vermelho - Av. Rio Branco. A ficção traz pitadas de passagens históricas, e narra a trajetória do anti-herói Jonas Camarão, que testemunha, a partir de uma Natal de várias épocas, os principais acontecimentos políticos e culturais do século 20.
FOTO: Elisa Elsie

segunda-feira, 26 de março de 2012

Brilhante Ustra: Torturador, sequestrador e agora colunista da Folha

Que o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra é sequestrador e torturador não é uma opinião minha, é sentença do juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível de São Paulo, 9 de outubro de 2008. A notícia, que reproduzo em parte abaixo, mostra quem é o que fazia o coronel no período mais infame da ditadura (a tal ditabranda da Folha).
Pois não é que a Folha abriu espaço em sua página 3 de sexta-feira para que Brilhante Ustra dê sua versão sobre acusações que sofre de outro que o acusa de tortura, o ex-presidente do BC no governo FHC Pérsio Arida?
Não foi à toa que a Folha procurou a ficha de Dilma durante a campanha. Se, durante a ditadura, com o empréstimo de seus veículos para que presos fossem transportados para serem torturados pela turma de Brilhante Ustra e com o editorial de Otávio Frias pai elogiando Médici, o jornal mostrava de que lado estava, agora, com a classificação da ditadura como ditabranda , com a infame (duas vezes a palavra “infame” numa mesma postagem, deve ser recorde – só a Folha…) publicação na primeira página da ficha falsa de Dilma e com a publicação da defesa de um sequestrador e torturador (não sou eu quem diz, mas a sentença de um juiz, até hoje válida), a Folha confirma sua posição – e se ela está ao lado de Médici, da ditabranda e de Ustra, o leitor fica no pau de arara da História.

eia a notícia da condenação de Brilhante Ustra, conforme publicada na própria Folha em 2008:

Por decisão do juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível de São Paulo, de primeira instância, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra tornou-se o primeiro oficial condenado na Justiça brasileira em uma ação declaratória por sequestro e tortura durante o regime militar (1964-1985).
A sentença, publicada ontem, é uma resposta ao pedido de cinco pessoas da família Teles que acusaram Ustra, um dos mais destacados agentes dos órgãos de segurança dos anos 70, de sequestro e tortura em 1972 e 1973.
(…) Na decisão de ontem, o juiz Santini argumentou que a anistia refere-se só a crimes, e não a demandas de natureza civil, como é o caso da ação declaratória, que não prevê indenização nem punição, mas o reconhecimento da Justiça de que existe uma relação jurídica entre Ustra e os Teles, relação que nasceu da prática da tortura.
(…) As testemunhas, que estiveram presas junto com os Teles, disseram que Ustra comandava as sessões de tortura com espancamento, choques elétricos e tortura psicológica. Das celas, relatam que ouviam gritos e choros dos presos.
“Não é crível que os presos ouvissem os gritos dos torturados, mas não o réu [Ustra]. Se não o dolo, por condescendência criminosa, ficou caracterizada pelo menos a culpa, por omissão quanto à grave violação dos direitos humanos fundamentais dos autores”, afirmou o magistrado.
O artigo de Ustra na Folha você encontra lá e nos espaços que defendem os crimes praticados pelo estado sob a ditadura civil-militar, de 1964 a 1985.

CARLOS ALBERTO BRILHANTE USTRA, coronel reformado do Exército, foi comandante do DOI-Codi de 29.set.1970 a 23.jan.1974 e é autor dos livros “Rompendo o Silêncio” (1987) e “A Verdade Sufocada” (2006).
Sobre a sentença, nenhuma palavra.
Antônio Mello, em seu Blog

domingo, 25 de março de 2012

Paulinho, Grande Paulinho... por João da Mata Costa


Meu amigo de sebos e bares morreu. Ninguém sabe como. Morando sozinho não
tinha ninguém para testemunhar o triste desenlace. O corpo só foi
encontrado três dias depois da morte. Um grande boêmio conhecia todos os
bares. Inconveniente algumas vezes naquilo que a solidão aporrinha e dói.
Carente nos seus tantos anos de muita farra. Tomava cana e pagava bebida
para todo mundo. Seu ultimo rastro ele deixou no sebo de Abimael quando no
ultimo sábado esteve lá - como sempre fazia - tomando sua caninha com
tangerina. A tangerina ainda estava lá, mas de Paulinho só a saudade e as
muitas lembranças.
Galanteador brincava com todas as mulheres. A algumas ele propunha
casamento. Dizia que daria tudo.  Muito simpático e bonachão, conhecia bem
a cidade que ele sorveu em largos tragos. Caia algumas vezes da cadeira.
Os donos de bar cobravam o que queria por suas doses. No antigo Bar do
Nazi ele tinha a sua cota. Todos nós tentávamos regular a cachaça de
Paulinho. Ele bebia todas e ficava inconveniente a partir da segunda lata
de Pitu. Elogiava o peito da mulher do amigo. Dizia gostar de Lenita.
Outras vezes sacava a plenos pulmões: –  eu quero o seu cú.
Aposentado do Banco do Brasil ganhava bem para viver a sua solidão. De
alguns lugares foi expulso. Certa vez isso aconteceu ao tomar banho nu na
piscina da AABB. Outra vez mijou sobre os pratos vazios e copos de um bar.
– Porra, Paulinho disse um amigo!
E Paulinho ficava só, e sua pena não era maior porque tinha dinheiro para
pagar tudo. Um dos maiores graus de loucura é quando alguém rasga ou joga
dinheiro fora – dizem os entendidos. Certa vez Paulinho foi posto a teste
e alguém o provocou – Quero ver você rasgar dinheiro! Pois, Paulinho
rebolou dinheiro fora em plena Avenida Deodoro. Outra vez amanheceu nu
numa calçada.  Essa mania de bêbado ficar nu e lascivo, nunca entendi.
Enfim, Paulinho foi embora e nos deixou mais só. Alguns ficarão sem sua
dose. Eu ficarei com a sua lembrança mais terna de alguém muito amigo e
solitário. Inconveniente para alguns. Na ultima feira de livro na UFRN ele
tomou todas e falava com cada pessoa ou aluno que transitava nos
corredores. A cidade alta perde um dos seus últimos grandes boêmios.
Aquela laranja ninguém teve coragem de comer. A cerveja de hoje estava
diferente, mesmo com todos os amigos. A caetana esgoelava suas garras.   O
cheiro de morte no ar e esse calor dos infernos de Dante.

Foto: Oswaldo Ribeiro. ORF

quarta-feira, 14 de março de 2012

Milton Siqueira, Poesia em estado bruto. 14 de Março Dia da Poesia, Uma Homenagem do Sebo Vermelho.


Milton Siqueira, libertário, miserável e verdadeiro, produzia versos soltos, alucinantes e cheios de vontades planetárias. Rabiscava em ponta de esquina, dentro de igrejas ou a caminho do mar. Maltrapilho, pedinte vitalício, olhos refratários. Ajuizava e alucinava quem não soubesse do nú e do crú da própria vida. No café "São Luíz", tragava todos os fantasmas, medos e assombrações undeground da província. Atacava com o seu verbo solto, quem lhe apunhalasse desatinadamente. Confessor-mor da dor de quem pede o perdão e de quem trai o próprio sol. Solitário, beberrão e ermitão, navegava com os anjos mentais, atordoando diálogos inter-continentais.
Vagando na noite feito sombra de nós mesmos, não se dispunha ao convívio fácil; gostava mais de besuntar seus cigarros loucos e roucos. Por pouco, em um dia, não extravassou toda a agonia de uma procissão cristã. Costurando corpos e com sua voz gutural, foi fazendo pilheria do que encontrava pela frente. Viveu como poucos. Morreu como todos nós.
Fonte:(Onthee.blogspot.com)

domingo, 11 de março de 2012

UNS POETAS: 45 ANOS DE POEMA/PROCESSO.



Uma homenagem aos 45 anos do Poema/Processo no dia da poesia, com um bate-papo com alguns dos nomes que fizeram parte desse importante movimento literário, tais como Falves Silva, Anchieta Fernandes e Jota Medeiros, em conversa mediada por Dácio Galvão. Após a conversa, exposição de livros/obras do Poema/Processo e coquetel de lançamento dos livros PROJETO 45, de Falves Silva, e AORIGEM DIÁGORA, de Jota Medeiros.
QUANDO? Dia 14 de março de 2012 (quarta-feira), às 9h.
ONDE? Auditório B do CCHLA-UFRN (Em frente à Biblioteca Central Zila Mamede).
Coordenação: Profa. Cellina Muniz (Departamento de Letras da UFRN).
 Apoio: Sebo Vermelho e Sol Negro Edições.