domingo, 10 de abril de 2011

Stefan Zweig e o xadrez da existência nos setenta anos do livro " Brasil País do Futuro"



por João da Mata Costa especial para o Sebo Vermelho

O escritor austríaco Stefan Zweig (Viena, 28 de Novembro de 1881 -
Petrópolis, 23 de Fevereiro de 1942) viveu no Brasil onde cometeu suicídio
em 1942. Sobre o nosso país ele ficou encantado com a diversidade e
convivência de raças e povos das mais diferentes regiões do planeta. De
suas boas impressões do Brasil escreveu "Brasil Pais do Futuro". Nesse
livro Zweig escreve desde o descobrimento (acidental ? ) do Brasil,
capitanias hereditárias, ação jesuítica, invasões holandesa e francesa, a
restauração e a inconfidência mineira, etc. Mesmo vivendo no Brasil no
tempo da ditadura Vargas do Estado Novo ( 1937- 1945 ), quando Olga
Benário foi deportada e morta nos campos de concentração , o escritor
tinha fé no futuro do Brasil devido ao seu presente digno e seu passado
sem guerras e sem necessidade de racializar a política e as relações
humanas ( Ronaldo Vainflas FSP 18/10/2009 ).
No início do século XVIII o Brasil se revela o mais rico país de Ouro do
mundo. Esse ouro vai reconstruir Lisboa depois do terrível terremoto de
1755, e vai influenciar de maneira decisiva a economia européia do
Iluminismo que brilhou em parte com o nosso ouro. O convento de Mafra foi
edificado como "quinto" que por lei o Brasil tinha que enviar para
Portugal (p, p. 80 " Brasil , Pais do Futuro", vol. VI Obras Completas )

Judeu, humanista, pacifista e crítico do nazi-fascismo, teve seus livros
proibidos e queimados em praça pública. Em 1933, sua novela "Ardor
Secreto" foi adaptada para o cinema, incitando a ira dos nazistas contra o
escritor e seu contrato com a editora foi suspenso. Em 1934, Zweig iniciou
sua peregrinação pelo mundo. Inicialmente radicado na Inglaterra, que lhe
concedeu cidadania, Zweig se casou com sua secretária, Charlotte Elizabeth
Altmann.

O jornalista Alberto Dines escreveu um belo livro sobre a sua estadia no
Brasil MORTE NO PARAISO: A TRAGEDIA DE STEFAN ZWEIG
Em 2003, o cineasta Sylvio Back filmou "Lost Zweig", baseado no livro de
Dines, e em 1995 Zweig - A Morte m Cena . Zweig refugiou- se no Brasil
com sua companheira Lotte, protagonizado pela atriz Ruth Rieser. No filme
do Back aparece o escritor Stefan Zweig ( Rüdiger Vogler ) jogando
xadrez - uma de suas grandes paixões -, e "sobre esse jogo que você joga
conta você mesmo" ele escreveu um livro publicado posteriormente à sua
trágica morte.

No filme de Back aparecem imagens do cineasta Orson Wells e o envolvimento
do escritor com uma bela morena que trabalhava nos correios. Zweig chega
no Brasil durante o carnaval e fica encantado com a alegria real dos
brasileiros, apesar das dificuldades econômicas e do governo ditatorial de
Vargas, não tão cruel como os regimes políticos europeus do chamado
primeiro mundo.

Stefan Zweig foi um grande escritor erudito e o seu primeiro livro, uma
coletânea de poemas, foi escrito em 1902 Silberne Saiten (Cordas de
Prata). Escreveu as peças "A metamorfose da comédia" e "A mansão à beira
mar". Seus livros eram editados em grandes tiragens e traduzidos nos
principais idiomas cultos. No Brasil, a Editora Delta, lançou sua Obra
Completa em dez grossos volumes em capa dura. Leio-os com grande prazer e
proveito. Na biografia de Maria Antonieta, um dos seus grandes livros,
Stefan faz uma confissão do fazer biográfico: " ... A história, esse
demiurgo, desdenha personagem central cheio de heroísmo para construir
drama emocionante. O Trágico não resulta tão só dos traços exagerados de
um homem mas, ainda e sempre, da desproporção entre o homem e seu destino
...

Durante a Primeira Guerra Mundial, em 1915, casou-se com a escritora
Friderike von Winsternitz e comprou uma casa em Salzburgo, aonde viveu por
15 anos. Foi uma das fases mais ricas de sua produção literária. Ele
escreveu as biografias de Dostoievski, Dickens, Balzac, Nietzsche, Tolstoi
e Stendhal. Anos mais tarde lançou as biografias de Maria Antonieta,
Fouché, Rilke e Romain Rolland.

Quatro anos mais tarde foi para Nova York e acabou se mudando para o
Brasil em 22 de agosto de 1940. O país o inspirou a escrever "Brasil, país
do futuro". Morando em Petrópolis, cidade serrana do Rio de Janeiro,
finalizou sua autobiografia, "O mundo que eu vi"; escreveu a novela "O
jogador de xadrez", e deu início à obra "O Mundo de ontem", um trabalho
autobiográfico com uma descrição da Europa antes de 1914.

Em 1942, deprimido com o crescimento da intolerância e do autoritarismo na
Europa, e sem esperanças no futuro da humanidade, Zweig escreveu uma carta
de despedida e suicidou-se com a mulher "Lotte", com uma dose fatal de
barbitúricos num copo de água Salutaris. Um ano após essa data, o Brasil
entra na II guerra mundial para combater o Nazismo.

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