Seridó, Seridós, é uma edição do Sebo Vermelho, reunindo crônicas de Moacy Cirne, verdadeira epifania ao sertão onde nasceu e descobriu o mundo. O poeta, o cronista e memorialista se encontram e se reencontram em deliciosos textos. O insuperável sabor da terra. Se o francês tinha suas madeleines, o seridoense vai buscar suas lembranças nas bolachas regalias. As orelhas do livro já seguram o leitor na primeira linha, bem antes da primeira curva:
MOATIDATOTATÍRNE, como se autodenominava quando criança, viajou pelas planícies brancas de Marte antes de anoitecer em nosso planeta. Nascido na Caatinga Grande das terras seridoenses, conheceu o mundo do ano de Dia de ira(Dreyer) e Perto do coração selvagem (Clarice Lispector), além de O ser e o nada(Sartre). Admirador de Guimarães Rosa, Oswald de Andrade, Graciliano Ramos e Moysés Sesyon, adora caldo de cana com pão doce. Criticado por muitos e elogiado por alguns poucos, sobretudo os amigos, MtT é um despoeta do cangaço anticulturalcontramemorialistico.
Mais adiante se confessa um ateu militante e se declara leitor da Bíblia e dos quadrinhos eróticos de Milo Manara.
Faz outras confissões: Devoto de Nossa Senhora de SantAna, São Castilho e São Nelson Rodrigues, estes dois últimos certamente por conta do Fluminense, sua outra grande e incontrolável paixão. Olhando para o Itans, Moacy Cirne faz nova confissão: Gostaria de ter escrito o Pentateuco. Ou, então, os livros de Oswaldo Lamartine.
Apaixonado também pelo cinema, frequentador do cine Pax, de seu Clóvis, Moacy vai debulhando suas lembranças pelas ruas de sua cidade:
Quando criança, nas ruas empoeiradas de Caicó dos anos 40 e 50, ruas essas bordadas com os sentimentos das descobertas intangíveis, eu me perguntava: Será que a bela Esther Williams um dia sairia das piscinas do cinema de seu Seu Clóvis para visitar meus sonhos mais delirantes? Será que a estonteante Ava Gardner um dia, quem sabe, abandonaria os braços de Frank Sinatra para ser acolhida pelos meus abraços e pelos meus delírios?
Da Coluna de Woden Madruga na Tribuna do Norte
Seridó, Seridós será lançado sábado, 14, a partir das 9 horas, no Sebo Vermelho, da avenida Rio Branco, 705 (onde foi Gumercindo Saraiva), Cidade Alta.