
Ana de Santana sobre os Vestígios de Ilane.
Procuro faróis entre meus guardados para seguir os vestígios de Ilane, que neste livro se insinuam nas sombras e nas cores. Como quem procura alguém querido embaixo da chuva noturna, leio seus versos em busca da mulher multifacetada, “dissolvida em partículas”. Encontro-a escrevendo em bilros para enovelar os medos, como ela mesma anuncia no poema “Rascunho”. A autora tece sua renda colocando seu universo como linha. Na peça rendada, a beleza surge em verso e prosa e em várias cores. Por vezes, o trançado é tão simples que comove pela profusão de sentidos gestados pela síntese. É o que sinto em “Poema”, cujo título é um vestígio do que a autora pensa da poesia. A leitora, a escritora, a mãe, e também a professora estão expostas nesses versos. O que ela sabe da poesia e ensina aos seus alunos, ela experimenta na maternidade e no trabalho de rendeira, metáfora de seu fazer poético. Simples assim:
A maternidade
dispensa palavras
constrói de gestos
os versos
Os gestos são, certamente, movimentos do amor. É ele o traço da poesia de Ilane. “Amar e amar, completamente, é o que importa”, diz a autora. Mas faz parte da renda amorosa, a dor. Por isso, encontramos alguns salpicos do sangue que escorre dos dedos feridos da rendeira que fia desiludida: “Foi porque amei devagar e me feri de você”. A desilusão é também a inevitável constatação do que poderia ter sido e que não foi:
E eu,
que sempre quis
ser neblina,
só consegui
ser farol
numa de tuas
esquinas.
A mim parece que Ilane conseguiu ser as duas coisas na sua poesia. Neblina porque não nos retira o prazer de ler o texto. Ela nos oferece uma bela peça de renda porque esconde os nós com um fino acabamento. Ela é farol porque escreve com luminosidade, evitando rebuscamentos que poderiam obscurecer os sentidos poéticos.
No fim, a autora se queixa de ser “escritora de meias palavras”. Que bom que é assim, porque a poesia não precisa de todas as palavras. Ela ainda diz que solta pedras no caminho tão curvo que a nada leva. Não é verdade. Porque não é linear é que não nos cansamos de ler a poesia de Ilane. E é assim porque seus vestígios nos levam a uma escrita rendada de chama e brilho.
SERVIÇO: Lançamento do Livro Vestígios
da poeta Ilane Ferreira Cavalcante
Local: Livraria Potylivros - Salgado Filho - Ao lado Natal Shopping
Dia: 09 de março 2010 - a partir das 19h.
Nenhum comentário:
Postar um comentário