segunda-feira, 2 de agosto de 2010
UM SEBISTA QUE VALE POR UMA INSTITUIÇÃO CULTURAL
Em julho de 2007 a revista “CartaCapital” dedicou duas páginas ao potiguar Abimael Silva. A reportagem informava que o sebista havia editado, por conta própria, 212 livros. Todos sobre o Nordeste, alguns de Câmara Cascudo.
Em homenagem a este grande nordestino, o blog publica o texto na íntegra. Confiram:
Mão na massa O slogan ele mesmo criou. “Pode botar aí: o único dono de sebo do Brasil que é também editor.” A marca, ele ostenta com precisão: “São 212 livros”. Abimael Silva, 44 anos, tem a verve do contador de histórias que, com simplicidade e um charme lá muito seu, torna aventurosos os próprios feitos e desordena os lugares-comuns.
“Conforme o que a gente lê ou vê, parece que no Nordeste só tem frevo e maracatu. Tem livro também. Se a gente depender do que se edita no Sudeste, nossa história não vai ser contada direito, não”, diz, abreviando a razão de ser do trabalho que toca há mais de 20 anos.
Abimael não vai à Flip. Mas tem ambições nada modestas. Quer registrar em livros a história da terra em que nasceu, se criou e prosperou, o Rio Grande do Norte, e, se possível, também dos estados vizinhos. “Além de descobrir novos autores, gosto de reeditar livros antigos e resgatar o que estava se perdendo”, afirma, tirando da cartola Estudos Pernambucanos, de Alfredo de Carvalho, clássico sobre a história do Nordeste, editado originalmente em 1907.
Dono do Sebo Vermelho, recanto da leitura erguido na avenida Rio Branco, centro de Natal, Abimael integra o batalhão de brasileiros que, sem leis de incentivo, fotos no jornal ou coquetéis com taças a girar, faz e consome cultura por prazer e – por que não? – ideologia. De passagem por São Paulo, o livreiro resolveu procurar a redação de CartaCapital para mostrar o que produz. E dizer que existe.
“Se a gente manda assim à toa é difícil vocês olharem direito, né?”, aposta, com grande chance de ganhar. Abimael conhece o mercado editorial e não o surpreende a informação de que, semanalmente, no mínimo 30 livros aportam numa redação. “Eu só mando para a imprensa nacional, do Rio e de São Paulo, alguma coisa muito especial. Mandar tudo é gastar selo à toa.”
Os títulos da editora são distribuídos, essencialmente, no Rio Grande do Norte, em Pernambuco, no Ceará e, vez por outra, na Bahia. “Com a tecnologia, difícil não é lançar um livro ou um CD. Difícil é fazer o livro ou CD acontecer. Tem livraria que, para expor o livro, só falta cobrar pedágio”, queixa-se.
Mas é fato que, de um tempo para cá, Abimael tem tido menos do que reclamar. Em Natal, tem espaço cavado em duas das principais livrarias da cidade, a Siciliano e a Poti. “Hoje está mais fácil. Há cinco anos, mesmo tendo editado cem livros, eu não conseguia. Às vezes, queriam um título só, mas eu pedia para que pegassem mais. Eu dizia: 'Isso é feito casamento, leva a mulher, mas leva a sogra junto'. De pouquinho em pouquinho, fomos furando os bloqueios.” Nem todos.
Há livrarias, segundo Abimael, que se recusam a comercializar livros de autores locais. “No aeroporto, por exemplo, não quiseram Papo Jerimum, que recupera o falar potiguar e agrada a todo turista que vai ao sebo”, anota. Editor de dez livros de Câmara Cascudo, já ouviu até que livro de Cascudo valia, mas desde que editado no Rio ou em São Paulo. “Como é que pode, rapaz?”
Mas Abimael não é figura de se abalar. “A gente vai tentando”, diz, enquanto caminha pela nova sede da Livraria Cultura, na avenida Paulista, em São Paulo. “É um mundo isso aqui, não? Vou até fazer uma proposta ao cidadão para ver se ele tem interesse num livro sobre o cangaço.”
Olhando os milhares de exemplares ali expostos, o editor matuta, compra uma edição de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, acompanhada de CD, se derrete diante das obras do argentino Ernesto Sabato, deixa o olhar vaguear e conclui: “No fundo, livro é um produto difícil de ser comercializado. É inflacionado, muito caro para o padrão de vida do brasileiro”. (…)
Fonte: Blog do Ailton
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Realmente a história das publicações no RN deve muito a este moço Abimael. Gosto do trabalho que ele faz. Nota-se um crescimento e uma credibilidade em suas edições. Parabéns!
ResponderExcluirParabéns, Abimael! Seu trabalho realmente é de encher o peito da gente de orgulho, e, mais ainda, por ser seu conterrâneo. Que a Suprema Força o ilumine mais e mais, no intuito de que possa continuar a realizar seus sonhos e intentos. Saúde, hoje e por todos os dias de sua longa vida. Forte abraço, João Maria Ludugero.
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