segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A edição desfigurada do Dicionário de Cascudo


Cascudo assiste a manifestação popular em sua casa.

Dicionário do Folclore Brasileiro – Uma Edição Desfigurada

Moacy Cirne. Edição Sebo Vermelho 2010



E eu que pensava que era só uma comparação copidescada e piorada do Dicionário do Folclore Brasileiro do Câmara Cascudo. Que nada! Moacy não só comparou, contou e criticou a diminuição de verbetes, supressão e acréscimos sem justificativas. Moacy mais uma vez mostrou que é um grande leitor. Moacy mostrou que um dicionário é um livro que pode ser lido como um outro qualquer. É realmente um crime o que foi feito com o Dicionário do maior folclorista do Brasil. Referencia internacional.



E o que foi feito na versão capitaneada pela editora Global – alem de todas as desfigurações semióticas, textuais, conceituais, históricas, regionalistas, etc, etc. -, impuseram uma auto-censura, impuseram censura onde não pode existir.

Não podiam ter expurgado, num index pessoal, palavras como Fumar, Ipandu, Mascar Fumo, etc.

Só para ficar nesse ultimo verbete dicionarizado por Cascudo e suprimido na versão desfigurada de Della Mônica et al.

Mascar fumo era uma verdadeira instituição no nordeste brasileiro. Um hábito arraigado e praticado por muitos que tinham no fumo de Arapiraca uma verdadeira panacéia. Meu querido tio João Caicó (irmão de Papai) tinha os dentes todos amarelos de mascar fumo. Não passava sem um rolo de fumo comprado nas feiras da cidade do Natal. O fumo servia para tudo, alem de diversão e mascagem muito melhor que o chicles. Qualquer ferida, qualquer machucado meu tio colocava fumo mascado. Li muitos folhetos de cordel para o meu tio João que adorava-os.

Como querer mudar uma cultura. Como desfigurar a obra do nosso maior escritor que , numa coisa não concordo com Moacy. Era – sim- um grande estilista. Escrevia gostosamente como um dengo. Como uma estória contada em noite de chuva pelas veias xerazades do nordeste.

Aí Moacy não agüenta e chama pela semiótica. Pelo poema processo. Inventa novo jogo do bicho. Já que pode mudar, né!. É sim, um crime, o que foi feito.

O Dicionário de Cascudo é obra de uma vida. Uma obra coletiva onde jamais podia ter sido omitido as referências bibliográficas e colaborações que Cascudo obteve a duras penas com suas cartas perguntadeiras.

Moacy comentou comigo no ano passado e eu escrevi um breve artigo sobre o que

“ ERA UMA VEZ UM DICIONÁRIO… “

Moacy leu tudo e observou que escreveram um outro livro mantendo o mesmo título e autor. Não pode!

Quero de volta o meu dicionário. Eu que adoro-os.

Em português, conheço desde o Bluteau.

Do Dicionário do Folclore de Câmara Cascudo tenho todas as edições e atesto e dou fé sobre tudo que Moacy escreveu ao seu estilo.

É verdade Moa, como pode tirar uma coisa dessa:

“GALINHA, Homero não a cita”

Uma referencia digna de Cascudo, que unia o universal com o regional. Que trouxe a grande literatura para o nosso folclore.

João da Mata Costa

Nenhum comentário:

Postar um comentário