sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Um chorinho para Natal - por João da Mata Costa


Tem umas notícias que deixam a gente triste. Não repõe o que o tempo desgasta e verga.

Assim como a notícia que leio nos jornais que vão fazer uma plástica para restaurar a velha Ribeira. Alegra o coração, senhor editor, saber que tudo será bonito novamente. É assim como curar as chagas de um doente querido.

O rosto muda, a boca da noite abre, e tudo que era triste fica mais triste ainda.

Para não dizer que nada ficou esquecido, também, será restaurada a Cidade Alta. A briga entre Xarias e Canguleiros não mais existirá. Um arquiteto lá do sul foi contratado e sabe como fazer tudo bacana. O filosófico e discursivo Beco da Lama transformar-se-á numa Atenas Potiguar. O rio não pode ser esquecido e vamos pedir para incluir no pacote do arquiteto. Ele que é o médico das vias e vielas, fará um check-up nas nossas artérias.

Tudo era Maia e nada foi feito para melhorar o nosso astral salobro.

O cinqüentão cinema Nordeste já foi transformado numa loja grã fina. Sua vizinha, a antiga Praça das Cocadas também não foi revigorada. Meu amigo que pirou comtinua lá e não melhorou. Já pensei convidar todos os amigos de antes para conversar novamente ali.

Quero gargalhar novamente com as piadas do Bispo de Taipu. Conversar sobre os tempos áureos do Cinema Nordeste. Nossa Pasárgada, enfim, conquistada e restaurada. O Grande cinema Rio Grande virou igreja evangélica e vou rezar com meu amigo Palocha para ganhar na mega, comprar o prédio e voltar aos tempos áureos do Cine-Clube Tirol.

Quero novamente dialogar com o amigo Volonté depois da saída de um daqueles filmes que ninguém entendia nada. A pocilga é aqui.

Os boêmios só querem um pretexto para comemorar e a festa já começou em homenagem à boa nova. Ou seria a pior nova.

Depois de tomar umas tantas no antigo bar do Nazi alguém lembra que a lei é seca e pergunta sobre o arquiteto. Mas, o bar do Nazi também fechou as garrafas. Ninguém entende esses administradores que a tudo finda. Por um momento a alegria foge, o semblante enrijece e alguém tem a brilhante sugestão de convidar o arquiteto para visitar a cidade que sofrerá sua intervenção para lá de clínica.

A copa vem aí e vamos convidar os arquitetos para particpar dos “velhos carnavais” saindo ali da cidade e, depois, o Carnatal. Assim ele saberá que somos parecidos com o Rio de Janeiro e transformará tudo numa Lapa de boêmios e seresteiros. Não é possível que ele queira transformar nossos hábitos, depois de aprendermos inglês na II Guerra. Choro a queda do machadão.

Todos os detalhes já foram miudamente planejados para a Arena das Dunas. Alguém sugeriu fazer um grande baile de inauguração com a orquestra tocando a valsa vienense para lembrar dos tempos que o Cinema Nordeste exibia os filmes de “Sissi, a Imperatriz”. Afinal, o velho e saudoso Nordeste virou loja grifosa. Um outro mais nostálgico e habituê do Beco da Lama prefere que seja tocado aquela música do Gonzaguinha: “Começaria tudo outra vez…”

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