quinta-feira, 12 de julho de 2012
Peregrino Modernista - Por Vicente Serejo
Sua consagração como escritor nacional veio no rastro luminoso dos seus dois maiores conjuntos de contos - Mata Submersa e Matupá, ambos nascidos das histórias, mitos e lendas da vida amazônica, onde foi médico ainda no início da vida profissional. Uma literatura que se revelaria forte e tão brasileira que fixaria seu nome na cena modernista, com uma presença nas Seletas publicadas pela Editora José Olympio com seus maiores nomes e no grande elenco da Coleção Nossos Clássicos da editora Agir.
A glória do contista venceu o ensaísta, a ponto de elegê-lo para a Academia Brasileira de Letras - o segundo norte-rio-grandense a alcançar a imortalidade nacional, depois de Rodolfo Garcia e antes de Murilo Melo Filho - escondendo o grande ensaísta que ousou, como médico e escritor, elucidar de uma vez a epilepsia da qual era portador Machado de Assis, num ensaio que se tornaria célebre e insuperável: 'Doença e Constituição de Machado de Assis', volume 171 da Coleção Documentos Brasileiros.
O crítico literário atuou em vários jornais e revistas de circulação nacional, daí ser sempre citado por historiadores e estudiosos do modernismo brasileiro, mesmo agora, em 2012, nos noventa anos da Semana de Arte de 1922. Sua atuação, ao lado de Jayme Adour da Câmara, um dos editores da Revista de Antropofagia, e de Câmara Cascudo, este no plano do Movimento Regionalista, marcam a presença do Rio Grande do Norte nos jornais, revistas e embates literários em torno das idéias modernistas.
É o grande ensaísta que brilha aqui, nesta edição do Sebo Vermelho que o editor Abimael Silva aceitou desentranhar de 'Três Ensaios', o pequeno livro lançado pela Livraria São José, Rio, em 1969, e no qual Peregrino Júnior reuniu três dos seus mais importantes textos ensaísticos: Modernismo, Graciliano Ramos e Amazônia. Uma edição com o sentido histórico de fixar a visão de um potiguar que viveu aqueles tempos de ousadia modernista, depois de um quase um século da ruidosa semana.
O ensaio de Peregrino, como ele mesmo confessa na abertura, mas sem detalhar a data original, nasceu da uma conferência sua, em Montevidéu, sobre o modernismo brasileiro, a convite do Itamarati como representante do Brasil. Das anotações que usou como roteiro para a sua exposição no Uruguai, nasceu este ensaio que reconhece não ser um levantamento completo pela extensão do tema e dos seus desdobramentos, mas é inestimável como testamento, ele que foi 'testemunha dos acontecimentos'.
Consciente do novo Grito do Ipiranga que marcaria, cem anos depois da Independência, uma nova tomada de posse do território, agora no sentido estético, Peregrino não renega as raízes ao registrar que em 1919, morando em Belém do Pará, leu, por sugestão de um amigo, aqueles versos estranhamente livres e ousados do livro 'Carnaval' de Manuel Bandeira, 'lição antecipadora de Debussy'. Depois, conviveu, no Rio, com as figuras de dois grandes modernistas: Graça Aranha e Ronald de Carvalho.
Escreveu seu ensaio quando já fazia parte da Academia Brasileira de Letras, mas nem por isso deixa de conferir a Graça Aranha a ousadia do seu 'Espírito Moderno', conferência com a qual rompeu com a tradição do Petit Trianon para ser um dos líderes da Semana de Arte. É tanto que reafirma a posição modernista e frontal contra o arcadismo e seus modelos clássicos: 'Graça Aranha desejava uma arte que transpusesse para a música, a pintura e a poesia as nossas gentes, saindo das florestas e do mar'.
É o olhar de quem esteve diante da cena, a partir de 1921, que está nestas páginas. Erguido aqui, com todas as experiências idas e vividas, para repetir Machado de Assis, tão caro a Peregrino Júnior. Que não se desvende agora, pois, todo esse olhar para que o leitor possa, interessado ou curioso, alongar sua visão na trilha luminosa do mais vivo depoimento de um norte-rio-grandense que viveu e conviveu com a revolução estética que mudaria, para sempre, o ritmo e o timbre da criação literária no Brasil
Lançamento Sábado 28 de Julho no Sebo Vermelho
A partir das 10h.
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