sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Um Soneto de Jarbas Martins



Soneto

onde se trata da matéria do canto e
de concerto (enguiçado) no ar


É de surpresa real, e não de invento,
que meu canto se nutre. É de nonada:
gaivota em pleno vôo e mar e vento —
viva escritura, sob o azul, lavrada.

Ante o que é breve e passa, pouco intento:
expurgo a vã palavra. (Nada, nada
me desconcerta mais do que o evento
de vê-la, nesta folha, restaurada).

Se me ocorre o poema, apenas tomo
o tempo em que ele paira, irresoluto,
entre a consumação e o desacerto.

Mas se me esvai, deixo-o de lado como
um canto que se perde, sem reduto,
enguiçado, no ar, o seu concerto.

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