terça-feira, 8 de novembro de 2011

Kurosawa e Jodorowsky: a simbiose da grande literatura e do quadrinho por João da Mata Costa



“A vida é tão curta, / se apaixone querida donzela, / enquanto seus
lábios ainda são rubros”. Kurosawa Viver 1952

Todas as artes estão relacionadas, e isso me adverte. Os “plongé e perspectivas dos quadrinhos – já centenário, foram utilizados no cinema.
Os quadrinhos, por sua vez, devem muito aos folhetins radiofônicos.
Lembro com saudades das novelas “ronda dos fantasmas” e “Jerônimo, o
herói do sertão”. Assustado e aventureiro percorri os becos da infância.
Depois fui vender revistas em quadrinhos, sem capa (muito mais barato),
nas portas dos cinemas e escolas. Muitos quadrinhos foram parar nas
telas do cinema. Muitos cineastas atuaram nas duas mídias. O Grande
Orson Wells fez época no rádio, antes de se consagrar no cinema.Em 1938,
o futuro diretor de Cidadão Kane produziu uma transmissão radiofônica
intitulada A Guerra dos Mundos, adaptação da obra homônima de George
Wellscausou pânico na população que pensava está sendo invadida por
marcianos. Federico Fellini desenhou o Flash Gordon e era fascinado pelo
“Mandrake”, do Falk e Davis. O grande ator italiano Marcelo Mastroianni,
dirigido pelo diretor de “A Doce Vida” tem muito do Mandrake.Diria mais;
não é possível conhecer a história da arte sem passar pelo genial e
eterno Fellini.

Outro grande diretor de teatro e cinema e roteirista de quadrinhos foi o
genial Alejandro Jodorowsky. Em 1957, Jodorowsky fez o filme “La
Cravate”. Um filme mudo rodado em Paris cujo roteiro era baseado num
conto de Thomas Mann, em que uma garota vende cabeças. Esse magnífico
diretor cult e anti-roliúde fez ainda os filmes A Montanha Mágica, El
topo e Fando y Lis. Filmes inquietantes, repletos de alegorias e
simbolismos. Filmes onde você pode encontrar o universo fascinante de
Frida Kahlo, o realismo fantástico, o surrealismo e o escambal.
Jodorowsky é um Chileno- Aquariano meu próximo. Nos quadrinhos ele se
imortalizaria como roteirista de alguns dos quadrinhos mais fascinantes
dos tempos modernos. Seus quadrinhos em parceria com o grande Moebius
(Incal)são obras primas.

No ano de 2010 foi comemorado pelos amantes da sétima arte o centenário do maior diretor de cinema japonês e um dos maiores do mundo. Seus filmes fazem sonhar e são partes da antologia fílmica mundial. O mundo passou a conhecer o Japão mítico e profundo dos samurais, a partir dos filmes do
Kurosawa que também tem uma grande aproximação com os quadrinhos. Ele desenhava os storyboards de cada plano de seus filmes. Dirigiu grandes obras primas como Viver, Rashmon, Ran, Dersu Uzala, Kagemusha, Trono Manchado de Sangue, Dodeskaden , Yojimbo, Os sete Samuraise Anjo Embriagado. Foi um apaixonado pela literatura russa e fez “O idiota” baseado em Dostoiévski e Ralé em Gorki. Tinha paixão pelos livros e thriller de Geoges Simenon. Baseado no Macbeth de Shakespeare dirigiu o belíssimo “Trono Manchado de Sangue”. O mais importante não é o porquê, mas o como. ” O modo com a coisa acontece pode não mostrar nada da coisa em si, mas mostra obrigatoriamente algo sobe as pessoas envolvidas no acontecimento e que fornece o como”

Apesar de sua grande estima por Dostoievsk – “É o escritor que escreve
com maior honestidade sobre a existência humana”, O Idiota não é o seu
melhor filme. Um dos filmes da minha predileção do Kurosawa é Viver e
seus flash — backs. Diretor de alguns dos maiores atores do cinema
Toshiro Mifune e Takashi Shimura. Dirigiu o belo Rashomon, vencedor do
Festival de Veneza de 1951, baseado em contos do grande escritor suicida
Ryunosuke Akutagawa. O que o escritor quis dizer é que a verdade é
relativa, com o corolário de não haver verdade alguma. E que cena
magistral: A velha rouba os cabelos dos cadáveres. Ela diz que rouba
apenas para sobreviver fazendo perucas dos cabelos roubados. O servo,
decide transformar-se em ladrão, a derruba levando suas roupas e dizendo
que a desculpa também valeria para ele. Dono de uma pontuação e cortes magistrais do cinema em belos wipes e grandes fades elegíacos, foi um dos maiores cineastas de todos os tempos e elevou o cinema á condição de uma das mais belas artes. Arte que faz sonhar e refletir sobre o grande mistério que é VIVER.


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