RAFAEL DUARTE
▶ rafaelduarte@novojornal.jor.br
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A cada dia me convenço mais de que o Rio
Grande do Norte é mesmo uma senhora potência e, muito em breve, ganhará
as vitrines das lojas como a grande referência mundial. Ditaremos a
moda das próximas quatro estações. Vai por mim, é questão de tempo.
Vivemos num estado onde o secretário não fala no feriado, a prefeita
manda prender um boneco e o marido da governadora é mais notícia que a
mulher.
Um estado
cuja capital tem dois clubes de futebol, mas que se dará ao luxo de ter
três estádios na mesma cidade onde há um hospital de referência em
urgência e emergência incapaz de atender a própria demanda. Você vai
dizer que o Rio Grande do Norte é maior que tudo isso. Só não parece
caber nos limites de sua própria incoerência.
Muita gente tomou um susto quando, na
última semana, a Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão demitiu a
professora Ana Carolina Vieira. O pecado da bailarina foi se apresentar
nua no teatro. Era Dia Mundial da Dança. Carolina disse ao repórter
Pedro Vale deste Novo Jornal que não queria provocar. O desejo era
dançar, apenas isso. A nudez da menina, 21 anos de idade, fazia parte do
cenário nu do espetáculo. “O figurino era minha pele”, explicou.
Diretora da EDTAM e responsável pelo afastamento da bailarina, Wanie
Rose disse que foi pressionada pelos pais e mães das alunas, que ficaram
horrorizadas com a cena.
Não faz muito tempo, um espisódio
semelhante aconteceu no mesmo palco do Teatro Alberto Maranhão. O
Governo do Estado trouxe o dramaturgo paulista José Celso Martinez
Correia para celebrar o Dia Mundial do Teatro.
O diretor é conhecido tanto pela
polêmica dos textos que monta como por se apresentar do jeito que veio
ao mundo. Nu artístico em pêlo, diz. Para Martinez, a nudez é uma forma
de quebrar tabus. Na visão do repórter Renato Lisboa que cobriu a
aula/palestra, um exercício para criar um ambiente de naturalidade entre
os atores.
É curioso como os dois casos foram
tratados de maneira tão distinta pelo mesmo Estado. Em março o governo
convida um diretor que, como já se sabia, ficaria nu em algum momento da
oficina. Um mês depois afasta uma professora cuja nudez fazia parte do
figurino da dança. Essa semana, conversando com dois amigos, não houve
consenso sobre a história. Um chamou a atenção para a caretice dos pais
que não souberam entender a nudez como arte na dança da bailarina; o
outro lembrou que o público dos dois episódios era diferente e que, por
isso, a nudez de Ana Carolina chocou mais que a de Zé Celso.
O que me parece claro é a incapacidade
da sociedade entender a nudez como uma expressão de arte. Ainda
enxergamos o nu ou como um tabu ou como um produto de massa que só pode
ser consumido quando embalado para presente nas novelas da Globo.
Nelson Rodrigues dizia que se todos
conhecessem a intimidade sexual um dos outros, ninguém cumprimentaria
ninguém. Errou apenas quando escreveu que toda nudez será castigada. No
Rio Grande do Norte ninguém sabe o que vai acontecer.
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