sexta-feira, 11 de maio de 2012

Nem toda nudez será castigada


RAFAEL DUARTE
▶ rafaelduarte@novojornal.jor.br
A cada dia me convenço mais de que o Rio Grande do Norte é mesmo uma senhora potência e, muito em breve, ganhará as vitrines das lojas como a grande referência mundial. Ditaremos a moda das próximas quatro estações. Vai por mim, é questão de tempo. Vivemos num estado onde o secretário não fala no feriado, a prefeita manda prender um boneco e o marido da governadora é mais notícia que a mulher.
Um estado cuja capital tem dois clubes de futebol, mas que se dará ao luxo de ter três estádios na mesma cidade onde há um hospital de referência em urgência e emergência incapaz de atender a própria demanda. Você vai dizer que o Rio Grande do Norte é maior que tudo isso. Só não parece caber nos limites de sua própria incoerência.
Muita gente tomou um susto quando, na última semana, a Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão demitiu a professora Ana Carolina Vieira. O pecado da bailarina foi se apresentar nua no teatro. Era Dia Mundial da Dança. Carolina disse ao repórter Pedro Vale deste Novo Jornal que não queria provocar. O desejo era dançar, apenas isso. A nudez da menina, 21 anos de idade, fazia parte do cenário nu do espetáculo. “O figurino era minha pele”, explicou. Diretora da EDTAM e responsável pelo afastamento da bailarina, Wanie Rose disse que foi pressionada pelos pais e mães das alunas, que ficaram horrorizadas com a cena.
Não faz muito tempo, um espisódio semelhante aconteceu no mesmo palco do Teatro Alberto Maranhão. O Governo do Estado trouxe o dramaturgo paulista José Celso Martinez Correia para celebrar o Dia Mundial do Teatro.
O diretor é conhecido tanto pela polêmica dos textos que monta como por se apresentar do jeito que veio ao mundo. Nu artístico em pêlo, diz. Para Martinez, a nudez é uma forma de quebrar tabus. Na visão do repórter Renato Lisboa que cobriu a aula/palestra, um exercício para criar um ambiente de naturalidade entre os atores.
É curioso como os dois casos foram tratados de maneira tão distinta pelo mesmo Estado. Em março o governo convida um diretor que, como já se sabia, ficaria nu em algum momento da oficina. Um mês depois afasta uma professora cuja nudez fazia parte do figurino da dança. Essa semana, conversando com dois amigos, não houve consenso sobre a história. Um chamou a atenção para a caretice dos pais que não souberam entender a nudez como arte na dança da bailarina; o outro lembrou que o público dos dois episódios era diferente e que, por isso, a nudez de Ana Carolina chocou mais que a de Zé Celso.
O que me parece claro é a incapacidade da sociedade entender a nudez como uma expressão de arte. Ainda enxergamos o nu ou como um tabu ou como um produto de massa que só pode ser consumido quando embalado para presente nas novelas da Globo.
Nelson Rodrigues dizia que se todos conhecessem a intimidade sexual um dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém. Errou apenas quando escreveu que toda nudez será castigada. No Rio Grande do Norte ninguém sabe o que vai acontecer.


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