quinta-feira, 7 de julho de 2011
O missionário de Deus que Macaíba acolheu - Por Dr. Olímpio Maciel
O nome de Antônio Fagundes costuma trazer à memória a imagem do professor austero que chegou a lecionar até três gerações de uma mesma família natalense. Porém, mais do que o mestre de ensinos os mais diversos, Antônio Fagundes foi um escritor que deixou obras importantes como Leituras Potiguares, Colégio Santo Antônio, Símbolos Nacionais e principalmente Vida e Apostolado de Dom Joaquim Antônio de Almeida.
Trata-se, de fato, de um livro extraordinário esta biografia do “Bispo de longas barbas” ou “Bispo missionário”, como dom Joaquim passou a ser conhecido nos últimos anos, quando se transferiu em definitivo, já resignatário, para a residência de sua irmã Ana Almeida de Macedo, localizada à Rua Coronel Maurício Freire, 115, Macaíba, e que ainda pode ser vista na cidade. Em primeiro lugar, porque relata a vida de um santo homem, um homem de Deus, que deu provas, em sua longa vida, de desprendimento das coisas materiais e de total dedicação à vocação religiosa que sentiu despontar em si ainda na sua primeira infância. Em segundo lugar, porque em sua biografia de Dom Joaquim, o mestre de Canguaretama se vale de uma bibliografia fidedigna e seleta que lhe permite esquadrinhar os fatos mais importantes, as fases mais decisivas, os momentos cruciais, na carreira do seu biografado. E tudo isso flui numa linguagem elegante e correta, sem detrimento da clareza e do rigor textual que são, aliás, marcas do seu estilo.
Mas é nos grandes momentos, verdadeiras apoteoses sacras, como quando Dom Joaquim toma posse como primeiro bispo da Diocese de Natal, em 11 de junho de 1911, que a arte narrativa e o prumo do historiador se dão as mãos. Ao descrever esse grande momento épico do cristianismo potiguar, Antônio Fagundes se esmera nos detalhes, chegando a ilustrar sua narrativa com depoimentos de poetas como Gotardo Neto e Cônego João Evangelista de Castro enquanto testemunhas daquela hora solene, quando a cidade segue irmanada ao encontro do seu Pastor.
Acompanhando esse relato biográfico, logo ficamos informados do quanto Dom Joaquim foi imprescindível, como homem de Deus, na catequese, na doutrinação, no ensino, na comunhão com a fé cristã, na obra evangelizadora que jamais deixou de realizar aonde quer que se fizesse necessário.
Mesmo os problemas que cercaram o período em que ele atuou como bispo da Diocese do Piauí são todos esclarecidos por Antônio Fagundes. Por esse tempo, o bispo missionário já elegera para si o lema latino in cruce vita, ou seja, “a vida está na cruz”. E essa rica imagem, plena do mais autêntico significado cristão, também se referia à aceitação do sofrimento, a exemplo do que fez o próprio Cristo. E Dom Joaquim não recuou ante os próprios sofrimentos que enfrentou desde o acidente vascular celebral que o acometeu em 1915, levando-o a abrir da Diocese de Natal, nesse mesmo ano.
Não obstante isso, esse mal, que pareceu tão grave aos olhos da ciência do seu tempo, não impediu Dom Joaquim de descobrir outras veredas em que reencontrava o Cristo: as missões pelo Sertão afora, o contato diuturno com o povo simples com o qual ele deu expansão a um traço profundo da sua fé: seu franciscanismo, um desprendimento absoluto das coisas materiais, fruto de sua identificação com o santo de Assis.
Foi esse o homem santo que Macaíba acolheu em seus últimos anos de vida, curtido pelo sofrimento mas moldado pela fé inquebrantável em seu Deus, o que o tornou reconhecido como uma testemunha da fé cristã temperada no amor que o nosso povo lhe devotava.
É a história desse milagre – pois a vida de Dom Joaquim Antônio de Almeida é um verdadeiro milagre de fé, confiança e amor a Deus – que as gerações de hoje têm agora a oportunidade de conhecer, nesta reedição do Sebo Vermelho, que volta em boa hora às nossas livrarias.
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