quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Você ainda reza?...Sim..quando escuto Bach..Assim é Vulpiano Cavalcanti, o homem e a história. Relançamento pelo Sebo Vermelho.


Vulpiano Cavalcanti, um homem de aço

Natal, dezembro de 1988.
Vulpiano Cavalcanti apareceu em Mossoró, vindo de Areia Branca, onde conquistara, em brevíssimo tempo, fama de grande médico, de milagroso cirurgião, de amigo dos pobres. E de comunista.
Conheci-o apresentado pelo advogado Raimundo Soares de Souza, futuro deputado federal, prefeito de Mossoró e criador da Universidade mossoroense.
Fizemos pronta camaradagem. Eu era ainda muito moço, quase menino. Vulpiano me ouvia com condescendência, fazia proselitismo. Discutíamos idéias. Ele, evidentemente, muito mais preparado, muito mais treinado para os debates nas saudades mesas dos desaparecidos - por quê? - cafés da cidade.
Achava-me por demais preconceituoso, embora eu quisesse mostrar abertura a qualquer idéia. Recordo que foi dele que recebi o livro de Roger Martin du Gard, O Drama de Jean Barois. Na dedicatória, notavelmente irônica, ele dizia que aquele era também o meu "drama".
Amistamos enquanto ele viveu em Mossoró, com um prestígio em grande ascensão.
Depois, mais raramente, nos vimos em Natal. Creio que não me encontrava com ele há uns bons 30 anos. O tímido irrecuperável não se encorajava a ir interrompê-lo na sua faina e impor-lhe uma amizade que ficou na adolescência de flores, quimeras e palavras de ordem.
Acompanhei, contudo, a sua vida, muito rica e aventurosa, com curiosidade. Vi-o chamado pela grande imprensa de representante de Luís Carlos Prestes no Nordeste. Soube de suas inumeráveis prisões. Não no autoritarismo que sucedeu ao golpe militar de 1964. Antes dele. No governo falsamente democrático do marechal Eurico Gaspar Dutra. Até no qüinqüênio liberal de Juscelino Kubitsckek. Era preso e, invariavelmente, torturado. Surravam preferencialmente as suas mãos mágicas, seus dedos hábeis, para que não voltasse a ser o exímio cirurgião que sempre foi.
Uma vez, ouvi de Luiz Maranhão Filho, que foi "desaparecido" no reinado dos atos institucionais hoje recordados com saudade pelo coronel Jarbas Passarinho, falso cristão novo da nossa tíbia democracia, ouvi de Luiz, o grande e saudoso Lula, que está carecendo receber a homenagem de respeito e de saudade do Rio Grande do Norte, como Vulpiano se comportava nas prisões. Não perdia o humor, brincava com os companheiros de cativeiro, gozava os algozes. Submetido a torturas terríveis, inimagináveis, ferozes, Luiz me dizia que todos presos falavam alguma coisa, inventavam alguma coisa para despistar e atender à ferocidade dos torturadores.
- Menos Vulpiano. Ele não diz nada. Não tenta nem despistar. Recusa-se a falar. Ironiza os bichos da tortura e continua, placidamente, reiterando suas idéias. Um monstro!
Pois foi o monstro sagrado que agora morreu. No seu Ceará. Longe da cidade do Natal de sua eleição. Deixando atrás dele um prestígio que nunca diminuiu. De homem de idéias firmes, inabaláveis. De homem de aço. E, no entanto, um homem visceralmente simples, compreensivo, bom. Amigo de todos. Até dos adversários mais impiedosos. Sempre risonho, afável, mobilizado. Médico e comunista. A profissão e sua opção política se completavam, se entrelaçavam. Um revolucionário sem ferocidade, meigo, atencioso, muito educado.
Os últimos anos de vida de Vulpiano Cavalcanti foram de consagração. Não havia duas opiniões sobre ele. Natal que desbota, desgasta, mediocriza, não consagra nem desconsagra ninguém, segundo frase ora atribuída a Câmara Cascudo, ora a João Medeiros Filho, consagrou Vulpiano Cavalcanti. Concedeu-lhe o respeito que ele merecia e a estima da qual era credor.
Sem precisar renunciar às suas verdades, sustentando-as com o ardor da distante mocidade, Vulpiano Cavalcanti, assim mesmo, por isso mesmo, era amado.
Morto Vulpiano, "desaparecido" Luiz Maranhão Filho, ser comunista, em Natal, perdeu a graça.

Dorian Jorge Freire.
Jornal O Mossoroense 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Moacy Cirne lança o seu olhar apaixonado pelo Fluminense.


O CANGACEIRO TRICOLOR
Uma paixão é uma paixão é uma paixão. O Fluminense é o Fluminense é o Fluminense. Este livro é a história de uma paixão: uma paixão nas cores grená, verde e branco. A história de uma paixão iniciada em 1954 no sertão seridoense de Caicó.
Este livro é uma homenagem, ora delirante, ora libertinária, mas sempre afetiva, a um clube de futebol marcado por glórias e conquistas inesquecíveis. É também uma homenagem a todos os tricolores: tricolores do céu, da terra, Rio, Natal e Júpiter.
Este livro é o Fluminense campeão brasileiro de 1970, 1984, 2010 e 2012. É o campeão da Copa Brasil de 2007. É o campeão do Rio-São Paulo de 1957 e 1960. É o campeão de 32 Cariocas. É o clube iluminado por Nelson Rodrigues e o goleiro Castilho.
Por um Nelson Rodrigues que dizia:“O Fla-Flu começou quarenta minutos antes do nada. E aí então as multidões despertaram”. Ou que escrevia: “O torcedor que foge dos campos não foge da derrota e sim da vitória que faz o sangue subir à cabeça”.
Este livro, enfim, sem maiores pretensões literárias ou históricas, sou eu, um certoMoacy Cirne, expoeta e cangaceiro tricolor da anticultura: cabeça, corpo e coração. Aqui e agora, sempre tricolor. Aqui e agora, ontem e hoje, ontem e amanhã, sempre Fluminense.
Com seus delírios literários, com seus arrebatamentos verbais. Com seu amor, eterno amor, a partir da magia embriagadora do Maraca Maracanã. Repetir é preciso, sonhar é necessário, ousar é possível: aqui e agora, sempre e sempre Fluminense. Sempre.