sábado, 31 de julho de 2010

quarta-feira, 28 de julho de 2010

CARLÃO DE SOUZA FALA DE SUAS FÉRIAS NO INFERNO INFERNO



O jornalista e escritor, Carlos de Souza, estreou o seu blog “Férias no Inferno”. O nome é uma homenagem ao poeta Rimbaud.
ACESSEM E DIVULGUEM http://feriasnoinferno.wordpress.com/

UMA HOMENAGEM A OSWALDO LAMARTINE DE FARIA



Ferros de Ribeiras do RN é o 14º livro de Oswaldo Lamartine de Faria e o primeiro que reedito após sua viagem com a Onça Caetana. É uma obra pioneira na bibliografia norte-rio-grandense. Continua sendo o primeiro e único título sobre os ferros do RN.
Oswaldo Lamartine de Faria está entre os maiores escritores brasileiros, com uma obra dedicada ao sertão do seridó norte-rio-grandense, como está nos títulos dos primeiros livros: NOTAS SOBRE A PESCARIA DE AÇUDES NO SERIDÓ (1950), A CAÇA NOS SERTÕES DO SERIDÓ (1961), ALGUMAS ABELHAS DOS SERTÕES DO SERIDÓ (1964), CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS NOS SERTÕES DO SERIDÓ (1965), VOCABULÁRIO DO CRIATÓRIO NORTE-RIO-GRANDENSE (1966), ENCOURAMENTO E ARREIOS DO VAQUEIRO NO SERIDÓ (1969), SERTÕES DO SERIDÓ (1980) e SERIDÓ SÉCULO XIX (FAZENDAS E LIVROS/1987).
No Rio Grande do Norte ninguém escreveu com mais estilo e originalidade que Oswaldo Lamartine. Na dúvida, Cascudo sempre o consultava sobre coisas do seridó. Raquel de Queiroz, quando escrevia Memorial de Maria Moura, também tirava dúvidas com o caçula de Juvenal Lamartine de Faria.
Um dia antes de apertar o gatilho no peito, aos 87 anos, deixou o último recado com Gasparina, sua fonoaudióloga: se acontecer alguma coisa comigo, não esqueça de avisar ao meu amigo Abimael!
O IBAMA, quando apreendia pássaros e outros animais sempre os soltava na sua fazenda Acauã, em Riachuelo.
Não foi à toa que, na manhã de 28 de março de 2007, no Cemitério do Alecrim, quando o padre e amigo João Medeiros Filho dizia as últimas palavras de corpo presente, aconteceu uma revoada sobre o cemitério, às dez horas da manhã.
Muito antes de Brigitte Bardot e os ecologistas, Oswaldo amava a natureza e os animais!

Abimael Silva
Sebista e editor

Um pouco sobre este grande homem.

O sertanista começou a publicar seus escritos no final da década de 40, deixando preciosas contribuições para os pesquisadores. Ele foi atrás das tradições populares. Seus estudos estão publicados em 21 livros que abordaram o vocabulário potiguar, as abelhas do sertão, a conservação dos alimentos, os pseudônimos e as iniciais potiguares, pescaria, construção de açudes, entre outros temas ligados ao mundo sertanejo.

Recebeu alguns título em vida. Em 14 de novembro de 2001 foi empossado como membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras, na cadeira 12 que também foi ocupada por seu pai e por Veríssimo de Melo, e cujo patrono era Amaro Cavalcanti. Em 2003 foi agraciado pela Fundação Joaquim Nabuco, com sede em Recife, com o título de “pesquisador emérito”. E, em 16 de novembro de 2005, recebeu o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela UFRN.

Apesar de ter momentos de rispidez, mantinha o humor, fato percebido durante qualquer conversa com o pesquisador que foi elogiado por Gilberto Freyre e José Lins do Rêgo. O primeiro, em artigo publicado na revista O Cruzeiro, em 1948, cita Oswaldo como uma revelação de estilo na etnografia brasileira. Em outro momento afirma que, ao lado de Cascudo, Oswaldo se tornou um mestre em assuntos nordestinos. José Lins registrou: “…muito teria que aprender com o jovem ensaísta riograndense do norte”.

SERVIÇO:
Dia 30 de julho 2010
Lançamento do Livro Ferros e Ribeiras do Rio Grande do Norte
do escritor Oswaldo Lamartine de Faria
Estande do Sebo Vermelho na 62ª SBPC
por trás da TVU

LANÇAMENTOS DE LIVROS NO ESTANDE DO SEBO VERMELHO DURANTE A 62ª SBPC


O estande do Sebo Vermelho, montado para SBPC está com uma programação especial Dia 28, partir das 15h serão lançados quatro livros editados pelo sebo: “Caicó Através do Tempo”, de Francisco Souza; “Os Holandeses na Capitania do Rio Grande”, de Olavo de Medeiros Filho; “Cidades Seridoenses – Caicó”, do fotógrafo deste jornal, João Maria Alves e “Dicionário do Folclore Brasileiro: uma edição desfigurada”, de Moacy Cirne. O estande do Sebo Vermelho está localizado atrás da TV Universitária.

Segundo Abimael Silva, “Os Holandeses na Capitania do Rio Grande” é uma das principais reedições, que recebem o selo do Sebo Vermelho. O livro descreve o litoral do Rio Grande do Norte em 1620, além de fornecer o detalhamento do desembarque dos holandeses na praia de Areia Preta em 1633, como também dos massacres de Cunhaú e Uruaçu. A presença holandesa na Serra de João do Vale, em Tibau do Sul e a pretensão de construir a Cidade Nova (A nova Amsterdam), são outros eventos detalhados no livro.

O autor caicoense Olavo de Medeiros Filho publicou 28 títulos, todos dedicados à história seridoense, à presença holandesa e ao RN colonial. Segundo Abimael Silva, Os Holandeses na Capitania do Rio Grande foi publicado em 1998, como o sexto volume da Coleção Cultura, do Instituto Histórico e Geográfico do RN e, meses depois, passou a ser raridade da bibliografia holandesa.

De outro caicoense é o livro que fala sobre a maior cidade da região do Seridó. “Caicó Através do Tempo” é uma pequena mostra do arquivo fotográfico de Francisco de Souza, que revela em preto e branco as imagens guardadas como a do encontro entre Frei Damião e Padre Antenor, da Festa de Santana em 1963, de Dinarte Mariz em 1930, a de Cícero Doido em 1957 além de paisagens e eventos políticos da cidade.

Ao lado dos dois primeiros livros estará o polêmico, “Dicionário do Folclore Brasileiro: uma edição desfigurada”, de Moacy Cirne. O livro é uma errata do Dicionário do Folclore Brasileiro de Câmara Cascudo, reeditado pela Global Editora, de 2008.

Para completar a trama, “Cidades Seridoenses – Caicó”, que além das fotos de tipos humanos, manifestações culturais e espaços físicos naturais e construídos de Caicó, o livro traz uma legenda explicativa, contendo informações históricas preciosas, como a do Arco do Triunfo. O livro de João Maria Alves será lançado a partir das 10h.

FONTE: Tribuna do Norte


O Estande so Sebo Vermelho fica por trás da TV Universitária.

terça-feira, 27 de julho de 2010

NATAL TERÁ MARCHA DA MACONHA



A marcha está prevista para acontecer no dia 30 de julho, a partir das 16h, na Praça Cívica do Campus da UFRN, e tem como objetivo chamar a atenção da sociedade para a questão da descriminalização da maconha.

O protesto vem sendo amplamente divulgado nas redes sociais e conta com blog (www.marchadamaconha.org), twitter (@marchamaconharn) e comunidade no orkut (Marcha da Maconha Natal 2010). No cartaz de divulgação está estampada a frase: "O álcool e o tabaco, conforme o ranking das drogas mais perigosas, estão em quinto e nono lugares, respectivamente; a maconha está em 11º, qual o motivo deles serem legalizados e a maconha não?".

De acordo com o comandante geral da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, Coronel Francisco Araújo, a manifestação é um direito constitucional do cidadão, mas se houver apologia ao crime os responsáveis serão presos. "Isso significa que pessoas que estiverem com cartazes, faixas, camisetas, ou qualquer mensagem de apologia ao uso de drogas ilícitas serão detidas e conduzidas à delegacia. Mas se os cartazes pedirem a descriminalização da droga nós não podemos fazer nada porque protestar é um direito do cidadão", afirmou Araújo.

Excessos

O coronel disse ainda que a Polícia Militar estará de prontidão para inibir os excessos. "Se alguém resolver consumir drogas ilícitas ou for pego portando drogas no protesto essa pessoa será autuada em flagrante e levada para a delegacia. O nosso objetivo é manter a ordem", concluiu. A Reportagem do Diario de Natal tentou falar com os organizadores do protesto através de email e twitter mas não obteve retorno.

Por Fernanda Zauli, da redação do DIARIODENATAL

quinta-feira, 22 de julho de 2010

UMA NOVA MARCA PARA O SEBO.



Para comemorar a 300ª Edição da Coleção João Nicodemos de Lima,
foi desenvolvida uma logo comemorativa que será utilizada já nas proximas edições.
Criação do designer Alexandre Oliveira,

LANCE DE MUNDOS..SEBO VERMELHO 300 EDIÇÕES


Maria Betânia Monteiro - repórter

Livros esquecidos. Esgotados. Ocultos. Importantes. Autores renomados. Criativos. Representativos. Outros nem tanto. Temas regionais. O sertanejo. A poesia. A prosa potiguar. Pequenos. Médios. Em tamanho, nenhum grande. 300 livros publicados no Rio Grande do Norte. O maior número do Estado. Não se trata de uma grande editora, ou livraria. A realização do ato, que o próprio “autor da obra” chama de “feito”, é o Sebo Vermelho. Único no Brasil a editar livros.

Kamilo MarinhoAbimael Silva é apaixonado por livros e fez disso sua devoção. Hoje é o maior editor de livros do RNAbimael Silva é apaixonado por livros e fez disso sua devoção. Hoje é o maior editor de livros do RN
À frente do Sebo Vermelho, Abimael Silva. Ele não revelou em que lugar, mas traz um José no nome e outro na alma. “Todo José é teimoso”, disse Abimael. A maior das teimosias aconteceu há exatos 25 anos, quando decidiu largar o emprego de bancário para ser... Sebista. Encontrou o lugar: uma cigarreira na Rua Vigário Bartolomeu, ainda sem cor. Ao lado da sua, outras azuis, brancas, verdes, amarelas. Vermelha? Nenhuma. Então esta passou a ser a sua cor. “Não foi uma decisão política. Não sigo partidos. Sou um pouco anarquista”, disse. Além disso, o vendedor de livros salientou que o vermelho está relacionado à paixão, à vida.

O nome Sebo Vermelho veio na seqüência, assim como vieram os outros espaços por onde Abimael foi passando. Um deles bastante visitado por esta repórter ainda na infância, quando na companhia do padrasto e da mãe, ficava encafifada com o número de pessoas esquisitas que circulava pelo local, uma delas tocava flauta com as narinas. O que esta repórter não sabia era que estes homens e mulheres esquisitos estavam construindo a história de Natal. Pintores, escritores, intelectuais de toda à sorte.

O tempo passou. O sebo mudou-se ainda umas cinco vezes até chegar à movimentada Avenida Rio Branco, no centro da cidade. Os visitantes também mudaram, uns já têm cabelos brancos, outros nem cabelos têm e o homem que tocava flauta pelo nariz nunca mais foi visto. Quem passa pela avenida ainda tem a chance de encontrar Abimael sentado numa cadeira de balanço feita de madeira, mas a oportunidade é rara, pois o sonho do sebista é grande e ele precisa, literalmente, correr atrás.

Abimael deseja chegar aos cinqüenta anos, em 2013, com a marca de 500 livros editados pelo Sebo Vermelho. Os cálculos já foram feitos. É preciso editar cinqüenta por ano. Em 2010 com o de Moacy Cirne (lançado ontem), foram publicados 18, sob seus arranjos. O VIVER fez uma visita a Abimael, que falou ao lado, em cima, em baixo e sobre livros. Eles são muitos. Mais de 30 mil espalhados por todos os cantos. Na ocasião tinha um na mão de Nei Leandro de Castro, outro na mão do seridoense Alma de Vaqueiro. Aos poucos outras mãos foram chegando ao Sebo (vermelho só nas portas de ferro), dando abrigo a mais um livro.

Com a mão nervosa e as pernas cruzadas, Abimael falou o seguinte sobre editar livros: “Quem ganha dinheiro com livro é dono de livraria. Edito os livros por paixão”. Foi assim com o primeiro em 1991, “Écran Natalense”, de Anchieta Fernandes. Abimael conta que o escritor já tinha feito de tudo para publicar e não conseguia. Foi quando o sebista resolveu arregaçar as mangas, pedir a ajuda de amigos e colocar o livro no forno.

Depois de Écran, Abimael passou dois anos para publicar outro: “Poetas do Rio Grande do Norte”, de Ezequiel Wanderley. Para encurtar a conversa, Abimael pegou um dos seus livros e mostrou que ao final existia uma lista, constando os demais títulos. Todos incluídos numa única coleção, a “João Nicodemos de Lima”, nome em homenagem ao primeiro sebista de Natal, que ele lamenta ter conhecido apenas a sua história.

Na lista estão autores como Câmara Cascudo, Djalma Maranhão, Carlos de Souza, Diva Cunha, Pablo Capistrano, Vicente Vitoriano, Veríssimo de Melo, Ney Leandro de Castro e o próprio Abimael.

O sebista conta que ora os autores fazem contato, ora ele faz o contato com os autores. Há também o caso em que se depara com livros raros, que resolve reeditar em versões fac-similares (o que Abimael mais gosta de fazer).

Ele conta que o contato é tranqüilo, mas tem vezes que chegam a ser engraçados, como no dia em que um homem disse que queria publicar um livro só para ver sua foto impressa num jornal. Abimael também conta outra dessas histórias. “O cara chegou aqui e disse: quero fazer um livro, aí eu pago uma metade, tu paga a outra e a gente divide a sobra”.

Fora os já realizados ainda têm os contatos esperados. Abimael conta que sonha não só com o número 500, mas com os nomes de Woden Madruga e Sanderson Negreiros entre os autores da João Nicodemos.

Dificuldades? Abimael diz que são muitas. Tantas que prefere não falar de todas. Apenas a mais grave. A falta de incentivo público e revela: “Nunca, em quase 20 anos de publicação de títulos importantes para história do estado, um político veio ou mandou alguém aqui para comprar livros para bibliotecas públicas”.

E apesar da ausência do poder público, Abimael fala do futuro. De um novo selo: Cidades Seridoenses. O estreante da coleção é o fotógrafo João Maria Alvez, que traz Caicó, como tema. Outra novidade é a reedição de “Os Holandeses na Capitania do Rio Grande”, de Olavo Medeiros filhos. A data do lançamento ainda será divulgada.


FONTE: Jornal Tribuna do Norte
agradecimentos especiais ao Dir. de Redação: Carlos Peixoto, a Jornalista Maria Betânia Monteiro e ao fotográfo Kamilo Marinho

quarta-feira, 21 de julho de 2010

CIDADÃO CAICÓENSE...



O Editor Abimael Silva, irá dia 23 de julho até a cidade de Caicó, onde receberá o título de Cidadão Caicóense prposto pelo Vereador Leleu. Nos dias 24 e 25 serão lançados livros do Sebo Vermelho no Bar de Ferreirinha.

Lançamentos.
Caicó Através do Tempo - Francisco Souza
ABC da Poesia - Lindoaldo Campos

terça-feira, 20 de julho de 2010

IRACEMA MACEDO LANÇA BLOG E MANDA NOTÍCIAS



rascunhos de prosa poética, poemas, pensamentos filosóficos e diálogos nômades

Para conhecer o blog acesse: http://foliasofia.blogspot.com

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Um Cascudo paulistano

Maria Betânia Monteiro - repórter

O que aconteceria se o curador de uma galeria cismasse com o sorriso da Mona Lisa de Leonardo da Vinci e encobrisse a sua boca com o desenho de um tecido fino, revelando para o público a imagem de uma odalisca? A cena, apesar de hipotética, serve para ilustrar o que foi feito com o “Dicionário do Folclore Brasileiro”, de Luís da Câmara Cascudo, editado pela Global Editora de São Paulo. Segundo o escritor Moacy Cirne, trata-se de uma violência cultural cometida contra o autor. “Nossa principal referência intelectual e cultural não poderia ter sido tratada assim. Ele foi visto como autor de segunda linha, e mesmo se fosse, este tipo de mutilação é inadmissível”, disse Moacy. Algumas das alterações gráficas realizadas, textos excluídos ou acrescentados são comentados no livro “Dicionário do Folclore Brasileiro: uma edição desfigurada”, de Moacy Cirne. O livro será lançado amanhã, às 19h, na livraria Siciliano do Midway.

Kamilo MarinhoMoacy Cirne contesta edição da global editora sobre obra de cascudoMoacy Cirne contesta edição da global editora sobre obra de cascudo
Segundo Moacy, no Dicionário do Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo, cuja primeira edição data de 1954, revisada e ampliada pelo próprio autor até a quarta edição, de 1980 constam pouco mais de 2000 verbetes relacionados ao folclore e suas definições. Algumas delas elaboradas em parceria com amigos de Câmara Cascudo e estudiosos. Moacy relata que na construção do texto, Câmara Cascudo ora posicionava-se em primeira pessoa, ora elaborava construções mais literárias, imprimindo desta maneira traços de sua personalidade. Mas os maneirismos do autor foram retirados do dicionário na edição realizada pela Global e em seu lugar foram postos depoimentos indiretos, onde o autor torna-se oculto.

Um exemplo citado por Moacy foi com relação ao verbete “Galinha”. No original Câmara Cascudo começava dizendo “Homero não a cita”, frase retirada pela Global. “Eles aboliram a vertente literária do dicionário”, disse Moacy.

E não foi só isso. No verbete “Carnaval”, inicialmente construído com 115 linhas, frases importantes foram retiradas, como a cascudiana “Do ponto de vista folclórico e etnográfico, o carnaval é um índice anual de sobrevivências e elementos reais da psicologia coletiva...”. No lugar dela surgiram informações de uma realidade que sequer foi vivenciada por Cascudo, como as Micaretas, incluindo a realizada em Natal. Além disso, na edição da Global, 47 linhas foram dedicadas ao carnaval paulista, quando no original, nem chegou a ser mencionado. “A rigor, as 115 linhas cascudianas valem muito mais do que as 190 Global”, escreveu Moacy em seu livro.

Além da inserção de textos inéditos, ainda houve a exclusão de trechos, que Moacy considera ter sido realizada a partir do juízo de valor da revisora. A exclusão do termo “Maconha” é um bom exemplo. No original constava o verbete acompanhado de sua definição, mas não havia nenhum tipo de informação mais apaixonada, que justificasse a retirada do termo. “Cascudo não fazia apologia à maconha. Suponho que a supressão do termo tenha sido uma questão de preconceito”.

Diante das alterações feitas, a que Moacy considera ser a mais grave de todas é justamente aquela que mais se repete: a ignorância das regras acadêmicas de citação. As citações que no original estavam entre aspas, na edição da Global foram inseridas no texto sem qualquer critério. “Cascudo virou um plagiador nas mãos deles”.

O balanço das alterações chegou ao seguinte resultado: cerca de 70% do texto original, talvez mais, foram modificados, em maior ou menor escala. As 811 páginas da última edição autorizada por Cascudo (sem ilustrações) transformaram-se em 768 páginas da edição Global, com elevado número de imagens. Em Cascudo estão presentes 2.154 verbetes, enquanto que na Global estão apenas 1.918.

Para o Presidente da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, Diógenes da Cunha Lima, Câmara Cascudo é um guia cultural para o estado e julga serem deploráveis as alterações realizadas no Dicionário Folclórico, muito embora elogie a atuação da Editora.

Muito menos Cascudo

Segundo Moacy Cirne, o tema tratado em seu livro, havia sido levantado por outros escritores e intelectuais; alguns poucos artigos haviam sido publicados, incluindo o do antropólogo Miguel Sautchuk, intitulado “O dicionário Multilado”, que pode ser encontrado facilmente na internet.

Moacy conta que para realizar o trabalho, fez uma análise comparativa da última edição da Global, de 2008 (que atualmente está em circulação nas livrarias do país), com a da Editora Melhoramentos (última autorizada por Cascudo).

O trabalho levou dois meses para ser concluído, numa rotina que Moacy definiu como bastante pesada. O autor comentou os verbetes e as alterações mais expressivas na obra de Cascudo.

Impressões Globais

A Global Editora vem reeditando várias obras de Câmara Cascudo, e em muitas delas, como constata o próprio Moacy Cirne, não há qualquer tipo de alteração. O Dicionário do Folclore Brasileiro se tornou um caso à parte, pois a editora achou que seria possível revisar e atualizar uma obra já acabada. A última atualização autorizada por Câmara Cascudo foi feita em 1980, que saiu pela Melhoramentos. A Editora Global começou a editar o Dicionário em 2001 e de lá para cá foram feitas outras quatro edições e no mínimo, uma reimpressão. As alterações foram propostas pela falecida Laura Della Monica (pesquisadora e coordenadora do projeto) e Eunice Pavani (preparação do texto).

De acordo com Camila Cascudo, bisneta de Câmara Cascudo, a família já se pronunciou com relação ao caso. Ela explica que Daliana Cascudo (neta do folclorista) notificou a editora, solicitando que a futura edição retomasse o texto original de Câmara Cascudo, não admitindo qualquer tipo de alteração. “Lemos verbete por verbete, fizemos a comparação e passamos o fichamento da obra, juntamente com os originais”, disse a advogada Camila Cascudo.
Fonte: Jornal Tribuna do Norte

Dicionário do Folclore Brasileiro: uma edição desfigurada - Editora Sebo Vermelho
Lançamento. Dia 21 de Julho na Siciliano do Midway Mall . a partir das 19h

ABC DA POESIA UM LIVRO PIONEIRO PARA A COLEÇÃO JOÃO NICODEMOS DE LIMA



UM LIVRO PIONEIRO


ABC da Poesia é o livro que faltava nas letras potiguares. Lindoaldo Campos, poeta de São José do Egito/PE, berço dos melhores poetas populares, organizou um livro de referência para os amantes da poesia, que desejam entender de rima, métrica e sextilha.
No Rio Grande do Norte ninguém escreveu nem publicou nada parecido. Ezra Pound publicou o ABC da Literatura e Maiakovski ensinou Como Fazer Versos. Agora aparece Lindoaldo com o ABC da Poesia, que também é uma antologia com o melhor da poesia nordestina, de Leandro Gomes de Barros a Ivanildo Vila Nova. Parabéns para Lindoaldo Campos!


Abimael Silva
Sebista e editor

O LIVRO SERÁ LANÇADO EM CAICO DIA 24 DE JULHO

CAICÓ....SUAS LUZES E SUAS SOMBRAS...UMA VIAGEM COM SEU SOUZA



Souza, arquivista da luz e da sombra
D. Pedro II foi o pai fundador das coleções de fotografias no Brasil. Amigo dele era um militar reformado da Guerra do Paraguai, Dom Obá (negro livre, descendente da nobreza africana). Não consta que o Rei Obá juntasse fotografias. Mas eis que sua história cruza-se com a de nosso Souza. Militar reformado do Exército brasileiro, Souza cumpre mais esta missão, agora uma batalha para que lembranças suas e de outros suspirem os ares da eternidade. Afinal, o simulacro da imortalidade cabe tanto aos gestos fotografados, quanto ao ato de quem entesoura almas.
Souza enovelou o tempo ao arquivar fotografias. Encapsulou imagens em instantâneos perenes para poder degustar o tempo perdido, desfiando carretéis de fotogramas. O leitor/expectador irá - seguindo o ofício em que o autor se esmerou - fruir deste cinema imóvel.
Cumpre à memória lembrar e esquecer. Acender e apagar lampejos de toda tragédia e comédia humanas que vicejaram indiferentes ao metro e à rima. A fotografia é um desses suportes da memória e como seu sucedâneo expõe e esconde, guarda e rejeita.
No armazém imaginário de Sousa cabem todos. Aquela rua que ficou congelada ao sol de domingo de 1900 e uns tantos. Colegiais cuja juventude já envelheceu junto com a fotografia. Desportistas que permutaram o movimento pela pose pétrea. Famosos regionais que se pensavam universais em seus diminutos satélites. Poderosos que até hoje parecem mais poderosos nas fotografias. Amigos de Souza que pensamos que sempre foram de nossos pais e, em priscas eras, nossos também. Digamos, blasfemando, que é um Orkut analógico.
Há arte em se deixar fotografar, em fotografar e em reunir retratos. Este livro são todos estes estados da arte e da memória. Souza acumulou, à guisa de cérebro, durante décadas, um significativo repertório fotográfico, a pasta de arquivo era sua rede neural. Com todos, Souza, orgulhoso, compartilhava esse passaporte para o passado. No entanto, seu álbum de tanto se multiplicar transmutou-se em livro, graças às artes divinatórias de Abimael Silva, editor, que sabe a hora exata de partejar livro em ventre de rascunho.
Ora, quem não tem Dom Pedro, caça com Rei Obá. Assim, nem perdemos o dom, nem a majestade.

Muirakytan K. de Macêdo

O acervo de Souza
Conheci Souza por acaso, no Bar de Ferreirinha, numa manhã de feira e muita cerveja. Para ser mais exato, primeiro conheci seu valioso arquivo fotográfico e fiquei seu fã.
Souza tem um arquivo com milhares de fotografias de Caicó e seus transeuntes. Este Caicó Através do Tempo é uma pequena apresentação de seu rico acervo.
Souza faz toda a diferença na cidade, com sua simplicidade e seu arquivo ímpar. É a memória viva da fotografia caicoense.
Se toda cidade tivesse um Souza, a história era outra e o Rio Grande do Norte não seria um elefante sem memória. Viva Souza!


Abimael Silva
Sebista e editor

LANÇAMENTO EM CAICÓ DIAS 24 E 25 DE SANTANA NO BAR DE FERREIRINHA.

É ASSIM QUE A ARTE E A CULTURA SÃO TRATADOS EM NATAL


Os 15 artistas selecionados para o XIII Salão de Artes Visuais ainda não receberam o valor de R$ 1350,00 referente à premiação do evento. A quantia deveria ter sido paga no dia 30 de abril deste ano, mas a prefeitura não efetuou o depósito na conta de nenhum dos selecionados. De acordo com a artista plástica Sayonara Pinheiro a Fundação Capitania das Artes (Funacarte) sequer procurou esclarecer os motivos da falta de pagamento.

Sayonara revelou não saber o porquê a prefeitura, até o momento, não os procurou para dar uma satisfação. “A gente liga lá e ninguém sabe informar sobre a premiação”, disse. O descaso fez com que o grupo se unisse e ajuizasse em maio deste ano uma ação junto ao Ministério Público exigindo o pagamento dos valores devidos e expondo problemas que ocorreram durante o evento.

A artista plástica afirmou ainda que nem mesmo os curadores do Salão de Artes Visuais, grupo formado pelo paulista Márcio Harum, pelo cearense Solon Ribeiro e por Leandro Garcia, receberam os cachês devidos pela prefeitura. “Até onde eu sei, ninguém recebeu”, enfatiza.

O performer André Luiz Bezerra, premiado na categoria ensaio, outro prejudicado com a falta de pagamento disse que chegou a se reunir no núcleo de artes visuais da Funcarte para tentar resolver o problema. “Eles falaram que encaminharam o valor devido ao setor financeiro e estavam dependendo da liberação deles”, disse.

André afirmou ainda que os artistas procuraram o Ministério Público para investigar o real motivo da dívida. “O problema é que o promotor que cuida do caso saiu de férias e estamos sem saber o que fazer”, revela.

A Revista Catorze teve acesso a ação ajuizada pelos artistas no Ministério Público. Feita no nome do artista Pedro Costa, ela denuncia, além da falta de pagamentos, que algumas obras expostas no Museu da Cultura Popular Djalma Maranhão sofreram danos por conta de infiltrações no local e que a exposição ficou fechada em dias que deveria estar aberta.

Funcarte alega que depende da Sempla para pagamentos serem efetuados

A assessoria de imprensa da Capitania das Artes confirmou o problema e revelou que foram feitas reuniões para tentar resolver o caso. De acordo com a jornalista Tiana Costa, assessora do órgão, a Funcarte depende da Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla) para efetuar os pagamentos. A reportagem tentou entrar em contato com Rodrigues Neto, presidente da Capitania das Artes, mas não obteve sucesso.

O chefe do núcleo de artes visuais do órgão, o jornalista Marcílio Amorim, disse que eles estão fazendo todos os esforços para o pagamento ser efetuado. “Os artistas precisam ser pagos o mais rápido possível, como coordenador tenho feito o que posso para que isso se resolva”. Ele falou que na sexta de manhã houve uma reunião com todos os chefes dos núcleos com o presidente Rodrigues Neto e esse foi um dos assuntos discutidos.

“Na reunião estava presente um representante da parte financeira. Ele disse que todo o processo dentro da Funcarte foi concluído, dependemos apenas Sempla para efetuar o pagamento”, afirma. Amorim ressaltou ainda que a Capitania das Artes é um órgão que depende de repasses da prefeitura para as suas ações. “Não temos nenhuma autonomia financeira”.

A prefeitura deve, segundo Marcílio Amorim, a apenas um dos curadores do Salão. “Até onde eu sei, ele não foi por problema na documentação”, afirma. Ele não soube informar qual dos curadores foi pago. Sobre o processo no Ministério Público, Marcílio afirmou desconhecer a ação. “Até agora não recebemos nenhum comunicado oficial”.

Ação dos artistas contra a prefeitura

Termo de declaração no. 005/2010

Aos 14 (quatorze) dias do mês de maio de 2010, pelas 14h:00min, compareceu perante esta Promotoria de Justiça o Sr. Pedro Vieira da Costa Filho, brasileiro, solteiro, artista, portador de RG – , residente em – , tel. – , e formulou a seguinte declaração: que se inscreveu e foi selecionado para o XIII salão de artes visuais da cidade do natal; que o evento deu direito a uma premiação em dinheiro no valor de R$ 1.350,00 a cada um dos artistas selecionados; que o prazo para a entrega da premiação foi até o dia 30/04/2010, sendo que até a presente data a mesma não aconteceu; que todos os artistas comtemplados (quinze ao todo) precisam saber o motivo da não entrega dos prêmios; também vem denunciar descaso da funcarte e do museu de cultura popular djalma maranhão pois as obras selecionadas para o evento acima citado ficaram expostos nesses locais, sendo que os mesmos encontravam-se fechados à visitação pública em vários dos dias em que deveriam estar abertos; que no museu de cultura popular djalma maranhão houve dano a uma das obras devido a infiltração causada pelas chuvas no local da exposição. Nada mais foi dito, nem lhe foi perguntado, pelo que se encerra o presente termo.”

Editorial: A marcha fúnebre da prefeitura
FONTE: www.revistacatorze.com.br

UM OLHAR NOVO E APAIXONADO PELA LEGIÃO



Henrique Rodrigues é poeta, contista, mas também um amante da literatura e das artes. E destacando desse amor o tanto que a banda Legião Urbana marcou uma geração, ele decidiu congregar vários escritores, gerando a antologia que busca mostrar como a música também pode servir de inspiração para a escrita.

O livro de contos “Como se não houvesse amanhã”, organizado pelo escritor Henrique Rodrigues, traz vinte histórias inspiradas em músicas da Legião Urbana, cada uma escrita por um autor diferente. Além de ser uma homenagem à banda que se tornou um mito, o livro é também uma amostra do que há de melhor na literatura brasileira contemporânea.

A exemplo das músicas da lendária banda formada em Brasília, os contos tratam de temas universais como amor, perda, revolta, indignação, morte. E, assim como as canções da Legião Urbana, os vinte contos deste livro são delicados, profundos, inquietantes e belos. E todos foram feitos para serem lidos em volume máximo – sim, em volume máximo, tendo a Legião Urbana como som de fundo.

As músicas da Legião Urbana (composta por Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá) embalaram, e ainda embalam, os sonhos, as alegrias, as tristezas e os amores de muita gente. Mesmo tendo encerrado suas atividades de maneira não planejada e trágica, devido à morte de Renato Russo em 1996, a Legião Urbana continua presente na mente e nos corações de milhões de pessoas. Então, não é surpresa alguma que suas canções também sirvam de inspiração para muitos artistas em atividade no Brasil. Incluindo escritores. Fica a dica. e a Legião.

fonte:http://sobrecapa.wordpress.com

sexta-feira, 16 de julho de 2010

BUNDAS..MUITAS BUNDAS...



Já chegou ao Brasil o livro The Big Butt Book, que em suas 372 páginas mostra uma paixão nacional: bumbuns! Lançado pela badalada editora Taschen, o livro mostra inúmeras mulheres, famosas ou não, que habitam o imaginário masculino. E prova que não são apenas os homens brasileiros que adoram os bumbuns! Com quase 30 anos de experiência no comando de várias revistas masculinas nos Estados Unidos, a autora do livro, Dian Hanson, tem outras obras de arte erótica lançadas pela Taschen: “The Big Penis Book” e de “The Big Book of Legs”. Segundo ela, é o bumbum, e não os seios (que têm uma conotação maternal), o verdadeiro ícone do erotismo. As 400 fotos do livro mostram mulheres do mundo todo e datam do século 20 até os dias de hoje. A representante brasileira na publicação – que foi impressa em três idiomas: italiano, espanhol e português – é Andressa Soares, a “Mulher Melancia”.

terça-feira, 13 de julho de 2010

13 DE JULHO DIA DO ROCK - QUANDO OS GIGANTES CAMINHAVAM SOBRE A TERRA


Produzido por: Editora Larousse
Edição Nº: 1
Páginas: 552
Formato: 15,5 x 24 cm



Descrição:


Quarenta anos após sua formação, em um porão imundo da Chinatown de Londres, surge a primeira biografia realmente definitiva de um dos grupos de rock mais famosos do mundo – o Led Zeppelin.

Eles foram o último grande grupo da década de 1960; o primeiro da década de 1970. Surgiram das cinzas dos Yardbirds para se tornar um dos grupos de rock de maior vendagem de todos os tempos.

Mick Wall, respeitado jornalista musical, conta a história do grupo que escreveu o manual do excesso na estrada – e acabou pagando por ele o preço do desastre, e da dependência de drogas e da morte. Quando os Gigantes Caminhavam sobre a Terra revela pela primeira vez a verdadeira extensão do interesse do líder da banda, Jimmy Page, pelo oculto, e vai até os bastidores para mostrar a verdade por trás da fama. Wall também conta, numa série de flashbacks imaginários, histórias da vida dos quatro integrantes que transformaram o sonho do Led Zeppelin em uma realidade ainda mais incrível.

Acima de tudo, este é um livro que percorre a fascinante história do Led Zeppelin a partir da íntima convivência com o grupo. É o resultado de anos de pesquisa e se baseia não apenas em entrevistas individuais com todos os membros do grupo – além de outras feitas por pessoas que os conheciam e trabalhavam com eles -, mas também na visão que só pode ser adquirida por alguém que passou três décadas no meio musical ao lado dos maiores artistas.

Imperdível!

O GRANDE MAESTRO PAULO MOURA SAI DE CENA.



Artista que levou o ar além de sua condição física e biológica, e construiu uma nova forma de movê-lo, devolvendo-o ao sentido-sonoro sua trans-dimensão de metal itinerante. Fluxo de sopro deslocante. Assim soprava sonoridades musicais magnificas o compositor e maestro Paulo Moura.

Paulo Moura, com seus metais sax dissonantes, criou percursos musicais que pontuaram a audição melódica fora da música imóvel, ou anestesiante como diria o filósofo da Escola de Frankfurt, Adorno.

Em seus percursos que o levaram ao cronológico 77 anos de uma estética abrangente, Paulo Moura foi parceiro em execuções musicais de artistas insignes como Elis Regina, Raphael Rabelo, Tom Jobim…

Esse paulista de São José do Rio Preto, Paulo Moura, na itinerância de seus metais-fluxos-sonoros gravita agora como sonoridade de si mesmo em si mesmo.

Se o filósofo Nietzsche tem razão ao afirmar que a música é a potência criativa da Vida, o ser trágico do novo, Paulo Moura só confirmou com seus sax de sax de mais.

domingo, 11 de julho de 2010

O LIVRO-OBJETO POR MARCELO COELHO

É moda prever o fim do livro, e é moda também dizer que o formato impresso é insuperável, que o cheiro do papel etc. fazem parte da experiência da leitura. Não tenho opinião sobre isso, mas observo uma coisa estranha.



Quanto mais falam que bom mesmo é o livro que você apalpa, dobra e cheira, mais aparecem invencionices no campo editorial.



Recebi agora um livro de Veronica Stigger, intitulado “Os anões”. O formato é compacto, bonito, com a capa naquele acabamento preto que os anúncios de celular e de laptop chamam de “steinway piano”, e com os cantos das páginas na bonita curvatura de uma carta de baralho, a exemplo da última edição de “Alice no País das Maravilhas”.



Muito bem. Você vai abrir o livro e, surpresa! Cada página é dura como um pau, plastificada, de modo que gruda na seguinte, e tem mais ou menos a espessura de um CD. Sinto-me como se tivesse voltado ao tempo em que a escrita era feita em tabletes de argila.



Qual a ideia, qual a justificativa dessa petrificação literária? Talvez tenha raiz num paradoxo. Já que a “materialidade” do livro deve ser valorizada diante de seus concorrentes eletrônicos, resolve-se fazer um livro bem “material”, sólido como um tijolo de baiano. Já que o livro é, antes de tudo, um “objeto”, faz-se o “livro-objeto”, o livro-peso de papel, o livro-enfeite, o livro-móbile, o livro-escultura...



Já vi livros sem capa, livros amarrados com barbante, livros com páginas de pano, livros com fibra de coco reciclada... Servem para dar de presente, e aliás é isso o que vem sustentando, imagino, parte da indústria editorial. Começou com os livrões de arte, livros contando a história da Ferrari ou com as 1000 bolsas Louis Vuitton que você deve comprar antes de morrer.



Agora, textos de literatura, de ficção, vão se embalando desse mesmo jeito; não que não possam ser lidos, mas o que importa é que sejam comprados, e quando você compra para não ler, é porque provavelmente comprou para dar de presente.

Escrito por Marcelo Coelho

DO FUNDO DO BAU..ABIMAEL ARRISCA UM SAMBINHA COM ODAIRES

sexta-feira, 9 de julho de 2010

UM HOMEM..UM GURU...UM MITO...UM LIVRO...QUASE NADA PARA ESCREVER



Havia um quadro na parede.
Lembro que tinha um quadro na parede, “A Revoada do Pássaros”. Para meus pais, os presenteados, a forma sugeria antes uma caravela em pleno mar, do que pássaros em revoada. Não deixavam de ter razão.
Lembro que, certa época, Walter won Berbe ia à casa de minha infância todos os dias. Vejo-o, silencioso, no terraço, antes ou depois do almoço, com algum livro na mão.
Lembro de um festival de música. Lá estavam Os Berbes, lá estavam muitos, lá – no Palácio dos Esportes – estavam os anos 60, em Natal, a tal Londres nordestina, e eu, assistindo ao vivo ou recortando as letras publicadas em um jornal e ouvindo a final numa rádio que, acho, era a Poty.
Depois, ele saiu do DER. Depois, deixou de ir lá em casa. Depois, foi pro Rio de Janeiro. Depois, o quadro sumiu.
Lembro, mais adiante, quase todos os anos, ele vindo à província com seus cursos sobre macrobiótica, com a yoga, a meditação, com sua calma em Maracajaú.
Lembro, num quarto, bengalas, chapéus, baús, telas e outros objetos – artísticos ou não - que eram dele, e que, imagino, alguém guardava para envio futuro.
Lembro do livro Macrobiótica Zen, de Sakurazawa Nyoiti (George Ohsawa), aparecendo, não sei bem por que, entre os livros de meu pai. Assim como a coletânea Textos Budistas e Zen-Budistas, da Editora Cultrix e um belo volume com capa de couro da Obra Poética, em espanhol, de Rainer Maria Rilke.
E, então, “Quase Nada Para Escrever”, guardado como se fosse um tesouro, o quadro que é, o retrato que é, o tempo que é, o jovem que é, em forma de livro.
Agora, Berbe volta, direto de um país que não existe no mapa, editado pelo Sebo Vermelho, persistência e delicadeza de Abimael Silva, o barco no mar.
Francisco de Assis Varela Cavalcanti Filho

quarta-feira, 7 de julho de 2010

SEGUINDO EM FRENTE

O POETA NÃO MORREU



Cazuza
Composição: Roberto Frejat/Cazuza

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas

Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm

Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia

Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

Quero cantar só para as pessoas fracas
Que tão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça

Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

terça-feira, 6 de julho de 2010

LOU REED VEM PELA CIA DAS LETRAS


A capa e o projeto gráfico do livro de Lou Reed, que vai sair no Brasil pela Cia das Letras, é de Stephan Sagmeister uma fera. Vai valer a pena esperar.

Buceta – Uma novela cor-de-rosa – Luiz Biajoni



Mesmo que não o convença da compra, vai fazê-lo piscar. Cogitar. Não sou eu quem vai lhe estragar a surpresa, leitor. Mas a buceta do título não é exatamente aquela. Quer dizer: é. Mas não é exatamente. Esse é um mérito do Bia. Como nos melhores romances policiais, nada é nunca exatamente o que parece ser. Mas há mais do que isso. Depois de algumas páginas, o cenário começa a se destacar. Leitor, prepare-se para mergulhar nesse mundo promíscuo, cínico, corrupto, às vezes nojento mas também incrivelmente ingênuo que é o do Brasil do interior. Não o Brasil rural: mas o Brasil das médias cidades, aquelas em que todos se conhecem de vista. Ou, ao menos, imaginam se conhecer. O Bia conhece esse Brasil no qual vivem a maioria dos brasileiros, segundo o IBGE. Sentelhe a pulsação. Conhece suas manhas. Somos, todos, um pouco personagens do Bia. E por mais abjetos que sejam eles todos, os personagens, no fundo, no fundo, dá uma vontade de perdoar-lhes quase todos por seus pecadilhos.Quase todos.

O Bia é um otimista. Se ele estiver certo, de perto não somos lá muito bonitos. Mas temos salvação. Não há escritor no Brasil de hoje que descreva este lado do país como Luiz Biajoni.” Pedro Doria

fonte: blog do autor. http://verbeatblogs.org/biajoni/

Cartazes comunistas de incentivo à leitura (1917-1920)

Não é de hoje que os governos fazem campanhas de incentivo à leitura. Afinal, ter uma população ignorante e analfabeta não é bom para país nenhum. Prova disso são esses belos cartazes russos que datam da época da Guerra Civil Russa (1918-1922).


O estilo da propaganda comunista é facilmente identificável. Os quatro primeiros são da página da Biblioteca Pública de Nova York, onde você pode conferir diversos  outros posters do período. Já os dois últimos foram selecionados de um incrível acervo de propagandas da URSS, que abrange de 1917 a 1991.



take care of you book s [Curiosidades] Cartazes comunistas de incentivo à leitura (1917 1920)



from darkness to light s [Curiosidades] Cartazes comunistas de incentivo à leitura (1917 1920)


Ot mraka k svetu. Ot bitvy k knige. Ot goria k schast’iu – Das trevas à luz, da batalha aos livros, da tristeza à alegria.(1917-1921)


Literacy is the road to communism s [Curiosidades] Cartazes comunistas de incentivo à leitura (1917 1920)


Gramota – put’ k kommunizmu – Alfabetização é o caminnho para o comunismo (1920)


poster leitura comunismo [Curiosidades] Cartazes comunistas de incentivo à leitura (1917 1920)


Kniga nichto inoe kak chelovek govoriashchii publichno. (Um livro nada mais é do que uma pessoa falando em público) – 1921



poster livros comunista [Curiosidades] Cartazes comunistas de incentivo à leitura (1917 1920)


Cartaz para de divulgação da exposição “Livros durante cindo anos”, 1924. Enrada Livre.livro comunismo [Curiosidades] Cartazes comunistas de incentivo à leitura (1917 1920)


O topo do cartaz diz: Um povo que esquece sua história é obrigado a repetí-la. Na capa do livro: História do partido comunista (Bolchevique) – Versão Condensada

segunda-feira, 5 de julho de 2010

PRESENÇA HOLANDESA NAS TERRAS DE POTY. PRÓXIMO LANÇAMENTO DO SEBO



Muitos historiadores escreveram sobre o Rio Grande do Norte no tempo dos holandeses (1633-1654): Gaspar Barléu, Alfredo de Carvalho, Tavares de Lira, Luís da Câmara Cascudo, Hélio Galvão, Paulo Herôncio de Melo e muitos outros, mas nenhum deles teve acesso à bibliografia que Olavo de Medeiros Filho conheceu. Olavinho, como era chamado pelos amigos, conhecia todo o arquivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e foi o maior historiador do RN holandês e colonial.
O livro Os Holandeses na Capitania do Rio Grande é tão completo que poderia ter o subtítulo de Enciclopédia dos Holandeses no RN. Tem a descrição do nosso litoral em 1620, o desembarque na praia de Areia Preta em 1633, os massacres de Cunhaú e Uruaçu, a presença holandesa na Serra de João do Vale, Tibau do Sul, Extremoz e a pretensão de construir a Cidade Nova, a Nova Amsterdam.
O caicoense Olavo de Medeiros Filho publicou 28 títulos, todos dedicados à história seridoense, à presença holandesa e ao RN colonial. Os Holandeses na Capitania do Rio Grande foi publicado em 1998, como o sexto volume da Coleção Cultura, do Instituto Histórico e Geográfico do RN e, meses depois, passou a ser raridade da bibliografia holandesa.
É o terceiro livro de Olavinho que o Sebo Vermelho reedita, para a geração do século XXI conhecer um período trágico e marcante da nossa história e nunca esquecer o nome do maior historiador da presença holandesa na Capitania do Rio Grande.


Abimael Silva
Sebista e editor

UMA PREÁ QUE NÃO DIZ NADA, UMA FUNDAÇÃO E UM PRESIDENTE AFUNDANDO




José Correia Torres Neto no Substantivo Plural


Ontem recebi de presente a Revista Preá (número 22, edição de maio/junho de 2010) e a folheei por quase duas horas. Percebi alguns elementos que me deixaram surpreso – uma surpresa arremedada de espanto – e que chegaram até a desfigurar o que eu esperava daquela revista. Isso que escrevo não se trata da minha estréia na crítica cultural de Natal, pois nem tenho formação e nem atrevimento bastante para isso. Mas é uma forma de avaliar o que se passa em um dos instrumentos culturais considerado como referência no nosso estado. Digo isso porque acompanho a revista desde o seu lançamento e vi como ela se firmou enquanto um mecanismo de divulgação e registro da cultura potiguar.

Quase calada

Logo no início da revista encontramos duas páginas, que podem ser consideradas como um muro de lamentações ou com um palavreado de uma vizinha velha no parapeito de uma janela de duas bandas que dá para a rua da frente, com o testemunho da atual presidência da maior instituição cultural do estado. Parecem até moda, na nossa atualidade, os surtos lingüísticos, ou quase psicóticos, que alguns presidentes são acometidos e que chegam até a debulhar meia dúzia de palavras surdas-mudas sem destino e sem ouvintes/leitores. O precioso espaço foi utilizado para explicar (ou seria para justificar?) os atropelos administrativo-burocráticos que impediram que a revista fosse lançada há mais tempo e também para enviar recados aos desafetos, e acho também que foram destinados a alguns amores não correspondidos ou trincados ao longo dessa administração.

A sopa rala, insossa e fria de letrinhas subscrita pela presidência traça um diagnóstico preciso de como se vive ou se encara a vida pública no nosso estado, não importando se é cargo efetivo conquistado através de concurso público e regido por um código de ética ou apenas um cargo efêmero conseguido por apadrinhamentos ou conluios. Antes de passar para a página seguinte, me perguntei: Será esse o local apropriado para tal desabafo? E, o leitor, o que tem a ver com isso?

Imagens, imagens, imagens…

Páginas e mais páginas e espaços e mais espaços em branco, sem audácia, atrevimento ou criatividade constituíram o projeto gráfico da revista. Não podemos esperar uma apatia gráfica em uma revista cultural na qual se pressupõem que a diversidade do fazer artístico é o principal elemento que promoverá a sua construção. Singularidade e simplicidade foram confundidas com ausência e desleixo. Algumas matérias, que poderiam ser apresentadas de forma mais elaborada, caíram numa indolência meio velada. Pela tecnologia gráfica, pelos recursos técnicos da atualidade e pelos talentos profissionais espalhados pelo mercado não se admite mais aquela máxima que diz que “o conteúdo é o que importa”. O que se exige é que um bom conteúdo seja agraciado por um projeto gráfico de qualidade e que agregue indiscutíveis valores a uma publicação. Faltou isso na Preá…

Errar por sermos apenas humanos
Se existem respostas elas ainda não conseguiram justificar as várias lacunas apresentadas na revista. Não é de bom grado ficar em silêncio diante da falha de impressão, da superficialidade apresentada por textos que podiam ir muito além do que foi escrito, da falta de atenção no que se escreve no sumário e o que foi apresentado no corpo da revista, da trivialidade como foram apresentadas as belas imagens, dentre outros.

Acredito na feroz batalha em produzir uma revista. Na dificuldade de arregimentar pessoas, idéias, imagens e assuntos e espalhá-los em noventa e duas páginas na esperança de estar fazendo o certo e agradar coloridos e incolores. Mas, os parâmetros dessa certeza oscilam de acordo entre a disposição que uma pessoa tem em acertar e na outra que se disponibiliza julgar. E o pior acontece quando estão envolvidos elementos como dinheiro público e desafeições políticas mostradas na abertura da revista.

Salvem-se quem puder ou “pernas, para que vos quero?”

A impressão – palavra muito bem empregada neste assunto – que a revista passa ao leitor é que foi produzida em cima da hora, no apagar das luzes, para mostrar algo que nem ela mesma, a revista, propunha.

Até quando vamos ver os desejos pessoais se sobressaírem em relação à racionalidade? E, principalmente, ao erário? Até quando vamos esperar um homem ou mulher com sangue no olho para traçar um planejamento em médio ou em longo prazo para a cultura do nosso estado? Até quando vamos esperar um corajoso ou corajosa que crie um fundo estadual de cultura? Até quando teremos que pedir permissão para mendigar apoio cultural através de leis meia-boca? E até quando a subserviência será critério de competência?

E lá se foi mais uma Preá, perdida na toca das veleidades…

domingo, 4 de julho de 2010

O PIVÔ DA ANARQUIA



Roberto Piva: Pivô da Anarquia (*)

É certamente meio ridículo que um poeta apresente em nota biográfica "um antepassado cavaleiro que combateu nas Cruzadas" e que "virou herético & começou a pregar a favor do Demônio", como fez Roberto Piva. O fato, em si, não passaria de um episódio anedótico, caso o poeta paulista não acreditasse verdadeiramente (para não dizer piamente) que representa, ou melhor, que é um poeta maldito, acrescentando: "Só acredito em poeta experimental que tenha vida experimental". O que caracteriza a condição de marginalidade não é propriamente a escolha de temas pouco ortodoxos, mas sim a transparência entre o objeto artístico (a obra) e a prática da autobiografia, eliminando as fronteiras entre os dois. De Aretino a Jean Genet, de Gregório de Matos a Jack Kerouac - certa atitude confessional é imprescindível para o adensamento da marginalidade. A mera intenção de ser marginal, acontecimento tão valorizado por poetas que querem pelo menos salvar a vida, pois o que escrevem é mesmo medíocre, corresponde a um evidente artificialismo. No caso de Roberto Piva, desnecessário: sua poesia escapou aos truques fáceis que marcaram boa parte da produção poética dos anos 70; ao mesmo tempo, fez retornar uma tradição ligada às tendências surrealistas e surrealizantes, que há muito tinham sido trocadas por um discurso caótico, afastado conscientemente da pretensão literária. Já com a publicação do primeiro livro, Paranóia (1963), Roberto Piva apresentava um conjunto de influências bastante razoável - com o que se afastava da noção de "vazio cultural" que iria imperar nos anos seguintes. Assim, sua poesia declara uma revolução relativa até mesmo à geração em que estava inserido, conforme escreveu num dos 20 Poemas Com Brócoli (1981):

Sou um navio lançado ao
alto-mar das futuras
combinações.

A promoção da anarquia, contudo, não é uma bandeira solitária da sua poesia. Roberto Piva logrou conciliar ao seu tom visionário uma qualidade por vezes incompatível com as propostas radicais - a da erudição. Não se trata, no seu caso, de resgatar escritores conformados às estéticas literárias, nem mesmo de limitar as influências à literatura, alargando-as à musica e às artes plásticas. Entretanto, à diferença da contestação cultural daquele instante, sua poesia apresenta uma linhagem artística nem sempre conhecida ou assimilada pela literatura brasileira. E é com ela que Roberto Piva intensifica a sua desordem: a intenção anárquica seria tão-somente uma curiosidade literária se não estivesse balizada pela intenção de criar, paradoxalmente, uma tradição - embora renovada. Assim como os poetas concretistas são essencialmente importantes porque fizeram surgir autores nunca dantes freqüentados pelos nautas do Brasil, Roberto Piva refere-se à existência dos expressionistas alemães, de certa literatura mística (como a do alemão Jacob Boëhme) e de obras quase esquecidas (por exemplo, a de Thomas de Quincey) que, por si, remodelam o panorama das influências possíveis sobre a poesia brasileira.

Seus poemas são quase sempre curtos, fragmentados - mas jamais episódicos. Talvez lamentavelmente, sobretudo para quem reclama da existência de ordens e normas, surpreende a coerência de sua obra ao longo de mais de vinte anos. Sua técnica é surrealista, crivada de versos grandiloqüentes que apelam para todos os sentidos, a exemplo de

onde borboletas de zinco devoram as góticas (hemorróidas das beatas

e muitas vezes não escondem um sentimento de justiça social e declaram o vínculo ao lirismo convulsivo de um André Breton. Ao mesmo tempo, versos mais meditativos aparecem:

o mundo continua sendo um breve colapso logo (que as pálpebras baixem.

Tudo isso de par com incessantes imagens sexuais, todas violentas, todas contrastadas, de um lirismo todo físico:

só acredito na geléia genital.

Na tradição da poesia erótica brasileira, Roberto Piva é de uma importância única. À parte as produções declaradamente fesceninas, ou ainda de cunho pornográfico, poucos foram os poetas que relataram a condição homossexual. No seu caso, a predileção estética é mesmo exacerbada e obsessivamente referida, a ponto de servir de título a um de seus livros, o eloqüente Coxas (1979). Ao seu redor, ele reuniu uma confraria sexual formada por Lautréamont (citado a propósito de seu amor pelos "pálidos adolescentes"), Rimbaud, Georges Bataille (em referência sutil à pederastia) e até mesmo Dante Alighieri, referindo-se ao cenário dos sodomitas condenados ao Inferno. Mais uma vez, a qualidade de seus poemas se deve menos à suposta radicalidade que ao bom arremate literário. Mesmo porque as perversões citadas não são inéditas nem mesmo nos clássicos modernos. Já Drummond, em "O Sátiro", escrevia:

Hildebrando insaciável comedor de galinhas.
Não as comias propriamente - à mesa.

Ou então, mais coerente com o gosto poético de Roberto Piva, recorde-se o belo poema "Rapto", em que, num laborioso trabalho de imagens, Drummond comenta o amor entre homens, "outra forma de amar no acerbo amor". Também Roberto Piva, em "Ganimedes 76", renova o mito da homossexualidade, e em outro poema, num de seus versos mais delicados, escreve:

suas coxas latejam de tesão & calma.

Roberto Piva é, no plano da poesia brasileira, um executante das partituras deixadas na última fase de Murilo Mendes e Jorge de Lima. Os dois poetas são decerto os menos compreendidos do Modernismo - isso porque, tendo escrito obras "típicas" na eclosão do movimento, optaram mais adiante por caminhos intensamente pessoais. Murilo Mendes foi o mais surrealista, ainda que agitado por indagações religiosas que apenas radicalizaram a sua poesia visionária. Jorge de Lima, porém, fez proeza maior: fundiu-se ao Barroco, especialmente em Invenção de Orfeu (1952). Se for de fato correto apreciar na poesia de Roberto Piva uma estética da fusão, em que várias tendências artísticas se cruzam, não é menos lícito registrar que, quase sempre profana, sua poesia é também agitada por uma teologia atormentada, que inaugura o Delirium Tremens diante do Paraíso.



Nota

(*) Suplemento Idéias, Jornal do Brasil, 24.1.1987