segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Lampião o Mata- Sete por João da Mata Costa




Lampião – O rei-do-cangaço

Um folhetim amoroso do Cangaço
Final do ano de 2011 foi lançado mais um livro sobre o cangaço. Trata-se de “Lampião o mata – sete” ( Aracajú 2011), escrito pelo juiz de direito aposentado, Dr. Pedro de Morais. O livro tenta mostrar que Lampião era homossexual e covarde. Personagem controversa ninguém nega a brutalidade dos métodos empregados pelo facínora lampião. Castrou e matou impiedosamente. Quanto ao fato de lampião ter sido gay pouco importa. Dizer que lampião era covarde, é uma tese no mínimo discutível. O Homem que lutou durante quase duas décadas contra sete estados nordestinos não pode ser considerado um frouxo. Tinha estratégias, sim. Lutava quando sabia que ganhava. 
 Lampião e sua Máquina Singer


Cheguei há pouco tempo de Sergipe, terra de muitos cangaceiros e estudiosos do cangaço e ninguém é sabedor dessa vertente  boiola na vida do temível Virgulino Ferreira da Silva. Conversei com o grande Alcino Alves da Costa – um dos maiores  estudiosos do cangaço-  e ele acha simplesmente um invencionice delirante essa tese. Estive na Gruta de Angicos onde Lampião foi assassinado em 1938 e foram arrancadas as cabeças dos cangaceiros trazidas e expostas em Piranhas- SE.  Quero dizer com isso que os métodos empregados pelas forças armadas de república brasileira não eram menos violentos que os empregados por Lampião. Quero lembrar também que a matança como no tempo de Lampião ainda hoje ocorre no nordeste brasileiro, região onde Lampião e seu séquito reinou numa quadra do século XX.

Em Visita à casa de Alcino. Vendo-se na foto o editor Abimael, Inácio Sena (estudioso do cangaço ), Homero Costa, João da Mata e Alcino Alves Costa

A tese defendida pelo ex-juiz de que Lampião era a homossexual e Maria Bonita uma adúltera, e os dois, mantinham um triangulo amoroso com o cangaceiro Luís Pedro, é insustentável e o juiz apela na sua demonstração sofrível e adjetivada. “Luiz Pedro – o amante” matou o seu querido irmão. Que Lampião tinha uma amizade chegada até demais com Tonho da Rosa. A força da tese do juiz é proporcional ao numero de adjetivos empregados numa forçada demonstração de uma tese insustentável.

Casa de Maria Bonita – Maria de Déa no povoado Malhada da Caiçara ( fotos do autor)
Para o juiz Lampião era um moço de fino trato dedicado a delicadeza. Mestre em arrumar festas. Perfumado, mas o bando ara conhecido pela sua imundície. Para onde iam eram acompanhados pelos urubus. Continua o juiz descrevendo a  “choldra maldita” comandada por Lampião, o covarde, o velhaco, o sicário: Lampião era uma peste moralmente corrompida, moralmente desequilibrado, insuficientemente macho para empreender uma vingança, etc. Mas o juiz não se cansa de adjetivar: Lampião – rei de todos os facínoras famanazes, frouxo capitão, frousura, etc.
Leio tudo sobre o cangaço e tenho uma boa lampionica, mas esse livro–folhetim não traz nada se novo na elucidação dessa grande saga que continua a encantar e inspirar artistas e estudiosos de todos os rincões. O livro do ex-juíz é apelativo até na capa. O título de Lampíão Mata-Sete vem emoldurado por um chapeú cor de rosa cheio de lacinhos e adornos.
Muito distante do chapeú de couro universalmente conhecido inspirado em Napoleão com abas ornamentadas em alto-relevo com seis sinos de Salomão, barbicacho de couro de 46 centímetros de comprimento e ornado em ambos os lados com cinqüentas peças de ouro. Lampião tinha três anéis: um de pedra verde, outro uma aliança e o terceiro de identidade gravado “Santinha”. A testeira de ouro de quatro centímetros de largura e vinte e dois centímetros de comprimento, onde eram afixadas moedas e medalhas – duas com gravações “Deus te Guie” , duas libras esterlinas, uma moeda brasileira de ouro, com a efígie de Petrus II, de 1855 e mais duas outras moedas em ouro.

Ate na anatomia onde as balas atingiram Lampião em combates, o juiz falha na sua descrição (pp 83, ao descrever a bala que atingiu Lampião na virilha e o incapacitou para macho ).   Em mais um delírio do juiz ele diz que em um dos combates travados pelo bando de Lampião,  o que mais lamentou o rei dos cangaceiros  foi a perda de sua máquina de costurar Singer. Para o juiz costurar é sinônimo de gay. Pobre tese e argumentação. Fosse assim meu pai tinha sido gay, pois costurou durante muito tempo de sua breve vida.
Em artigo postado na internet,  no importante site dedicado ao cangaço (http://cariricangaco.blogspot.com/2011/11/lampiao-o-mata-sete-poralcino-alves.html ), escreve o grande estudioso do cangaço - autor de vários livros sobre o assunto – Alcino Alves  Costa .
“Dizer-se que Lampião era homossexual e Maria Bonita uma adúltera, e os dois, Lampião e Maria Bonita, coabitavam com Luís Pedro, vivendo assim, em plena caatinga, um triângulo amoroso, é algo que em sã consciência ninguém tem o direito de acreditar. Eu sei muito bem que pessoas descompromissadas com a verdadeira história do cangaço e de Lampião tiveram o desplante de dizerem ou registrarem essas verdadeiras aberrações. Porém, um homem do quilate, da hombridade e da nobreza de caráter do Dr. Pedro não merecia participar desse pequenino grupo de pessoas que registraram tão medonhas distorções da história cangaceira. Lampião jamais foi um gay. Aliás, em toda história do cangaço, desde os seus primórdios não se registra nenhum homossexual nos grupos cangaceiros. Luís Pedro tinha a sua companheira, a cangaceira Neném, morta na fazenda Mocambo, em Sergipe. A afirmativa de que o grande cangaceiro, do povoado Retiro, em Triunfo, Pernambuco, era amasiado com Maria Bonita e o próprio Lampião é uma coisa deplorável, uma mentira monstruosa que nasceu da mente doentia dos mal intencionados. Quanto a Lampião ser um estilista, afirmação de um dos maiores pesquisadores da história cangaceira, eu contestei essa esdrúxula afirmativa, inclusive em artigo para este jornal, mostrando que o tão considerado escritor estava usando apenas o seu ponto de vista, nunca a verdade sobre o viver e a conduta de Lampião”.
 Em nossa opinião; Virgulino Fereira, o Lampião, foi um sertanejo produto de sua época e região comandada por coronéis onde a lei que o juiz estudou valia pouco.  A desigualdade era a marca de uma região de escassez e muita miséria. A falta de opção era gritante e muitos entraram para o mundo do cangaço pelo fascínio desse mundo de aventuras e crimes hediondos.  Lampião foi um terrível criminoso – ninguém nega- igualmente corajoso e estrategista. Essa é na nossa tese com base nos muitos combates defendidos em vinte anos por Lampião. O homem que desafiou vários estados brasileiros ao mesmo tempo não pode ser frouxo, como advoga o juiz em seu livro-folhetim- apelativo.  Ser cangaceiro não era necessariamente por vingança. Podia ser sinal de valentia e poder, numa terra sem lei comandada por coronéis e foras da lei.




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Depois de tantos caminhos a percorrer pela MPB moderna...pelas cantoras, velha , novas...todas elas ...em vão. nada que se compare ao vulcão Elis, isso é a mais pura realidade, queiram ou não.. com toda e máxima sinceridade..Redescobrir



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Um sonho que a gente teve - Por Rafael Duarte


O hall de entrada da Fundação José Augusto estava lotado.  Um calor insuportável. Artistas, produtores culturais, jornalistas e funcionários do órgão aguardavam a então governadora Wilma de Faria anunciar o valor da renúncia fiscal para os projetos  que seriam contemplados pela lei Câmara Cascudo de incentivo à cultura. Estamos em 2006, eu era repórter de cultura da Tribuna do Norte.
Ali, em meio àquele alvoroço de gente, me espremia entre uma pilastra e um poeta para chegar perto da mesa principal quando um puxão no meu braço me tirou de rota. O sorriso largo que apertava ainda mais os olhos miúdos e o abraço eram inconfundíveis. Cantei a pedra: Deífilo Gurgel, o ‘professor’, estava preparando mais uma das suas.
Fazia algum tempo que não nos víamos. Coisa de semanas.  De vez em quando, o telefone da velha TN tocava. Era ele falando de algum artista esquecido pela falta de memória do estado. Naquela manhã, na Fundação, Deífilo tinha novidades. Como quem conta um segredo a um amigo, disse que viajaria no dia seguinte para o interior do estado. A ideia era mapear todos os locais e ver como estavam os personagens que descobriu na viagem de 1979, que deu origem ao livro ‘Espaço e Tempo do Folclore Potiguar’.
Com a cara de pau que Deus costuma dar aos repórteres, perguntei se tinha vaga:  - Vai apenas eu e o motorista, Rafael…Voltei ao jornal, combinei com Cínthia e Peixoto e, em meia-hora, Deífilo ligava para confirmar.
- Tudo certo, professor! Posso levar um fotógrafo? Deífilo ria. No dia seguinte, às 7h30, ainda dentro do ônibus, vejo no visor do meu celular o nome do professor. Do outro lado, depois do bom dia, um pedido inusitado:- Rafael, me faça um favor, em vez de ir para a Fundação, me espere em frente à igreja de Santa Terezinha. Só fui entender quando começou a viagem. Deífilo ficou com medo que alguém do governo achasse que ele estivesse usando o carro para se promover com a imprensa. Esse excesso de humildade é marca da personalidade do professor.
No caminho, proibiu também o motorista de ligar o ar-condicionado do carro em Natal. - Vamos deixar para quando tiver muito calor. As pessoas acham que só porque é do governo tem que gastar. Foi uma viagem de lições pelos litorais Norte e Sul. Era emocionante vê-lo reencontrar amigos ou familiares de quem já tinha partido. Cada abraço tinha o conforto da saudade morta. Há uma reciprocidade bonita e ingênua no amor entre o professor e a cultura popular. Voltei para casa lembrando o que Nelson Sargento disse uma vez sobre o amigo Cartola e, ali, entendi o tamanho e a dor dessas saudades. Deífilo ainda resiste. Mas no fundo ele nunca existiu: foi um sonho que a gente teve.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O Ano de Charles Dickens Por João da Mata Costa







Bicentenário do Nascimento do escritor Charles Dickens (1812-2012).

Aquariano nascido no dia 07 de fevereiro de 1812, em 2012 é celebrado no
mundo inteiro o seu bicentenário. Escritor de grande capacidade fabulista
foi o criador de tipos grotescos e inesquecíveis. Personagens que vivem
através de gerações, mesmo sem a grandeza e consistência dos grandes
personagens da literatura.  Charles faz apologia dos pobres e muitas vezes
suas tramas nos fazem chorar e rir.  Os dickensianos não param de admirar
e encantar-se com o autor do magistral David Copperfield. Booz para os
íntimos, Dickens continua sendo amado desde que começou a publicar seu
David em folhetins de capa azulada.  Numa trama cheia de suspenses todos
desejavam saber como seria o desfecho da vida da criança – herói e o seu
amor por Dora Spenlow, que se tornaria a sua primeira esposa e apresenta
muitas semelhanças com a mãe de David - Clara Copperfield. David é órfão
de pai e nasceu logo após a morte deste.  Sua mãe casa com um homem mais
velho que infernizará a vida de David com sua moral rígida e castradora.
Livro preferido pelo autor narra a trajetória de uma vida que se confunde
em muitos aspectos com a do autor.  A primeira edição do texto em forma de
livro foi publicada em 1850. No Brasil li pela primeira vez esse poema
narrativo na tradução de Costa Neves, editado pela Pongetti em 1941. Para
Anthony Burgess, autor de “A Literatura Inglesa”, Dickens é inculto, seu
estilo é grotesco – deselegante, mas tem um ouvido atento aos ritmos das
falas dos que não têm educação, e não têm medo nem da vulgaridade nem do
sentimentalismo. Sua obra é um testemunho do mundo de horror e pesadelo em
que o autor viveu e seus personagens são muitas vezes caricatos e chorões.
Otimistas personificados, hipócritas, monstros de ignorância e tirania,
pedantes, etc. Enfim, são criaturas no limite de um grotesco que ainda
parecem atuais dos nossos iguais e encantam nos dois séculos do seu genial
criador. Uma obra adaptada inúmeras vezes para o cinema, TVs e outras
mídias.
Outras obras de Charles Dickens são:
As Aventuras do Sr. Pickwick, romance- folhetim picaresco sobre um grupo
de esportistas amadores.
Oliver Twist, sobre a infância pobre passada no orfanato – presídio e no
mundo de ladrões e marginais. “ Há pessoas tão delicadas e refinada, que
não suportam a contemplação de tais horrores”
Conto de Natal, conta a história de um avarento que na véspera de Natal
recebe a visita de espíritos que o fazem rever seu passado de mesquinhez,
e no dia seguinte faz a alegria dos seus parentes pobres com um papai Noel
numa atitude filantropa.
A Casa Soturna, romance que trata da exploração do trabalho infantil.
Tempos Difíceis, critica antitrabalhista e conservadora dos sindicatos
operários.
Grandes Esperanças, romance que trata dos ajustes e desajustes da ascensão
social.