sábado, 30 de agosto de 2014

ADEUS PALOCHA. Por Dr. Carlos de Miranda Gomes

Nossa convivência teve somente uma dúzia de anos. Começou nos encontros na Livraria Poty, depois no Sebo Vermelho e na Livraria Câmara Cascudo. Desde logo me afeiçoei a ele, pela sua humildade e boas tiradas nos poucos momentos que resolvia falar.
Formamos uma verdadeira Confraria e nos finais de ano nos reuníamos para uns comes e bebes. Ele nem bebia, nem comia muito - não dava prejuízo a ninguém.
Ultimamente estava faltando aos encontros e comentávamos que ele estava ficando fraco. As forças já não permitiam grandes caminhadas.
De repente, lendo o Jornal de WM do último dia 27 de agosto deparei-me com a notícia:
"Tempo de Palocha", onde o excelente articulista, em brilhante resumo, pintava o nosso querido amigo, com as tintas exatas de sua existência.
"Fecham-se as cortinas do Cineclube do Tirol, mas ouvem-se ain da as últimas notas da trilha sonora anunciando a partida de Paulo Francineti da Rocha, Palocha. Na segunda feira ele partiu para a última viagem e, lá em cima, numa visão bem cinemascope, se reencontrou com Moacy Cirne e outros doces loucos apaixonados pelo cinema. Palocha foi um dos fundadores do Cineclube Tirol, Natal do começo dos anos sessenta, o pessoal marcando ponto no Salão Paroquial da Igreja de Santa Terezinha, no Tirol. Eram exibidos ali os filmes raros, encontrados com dificuldades entre cinéfilos de paixão verdadeira, muitas dessas películas trazidas, como joias, além dos limites da província. Tempo dos 16 milímetros. O Cineclube Tirol passou a ser um marco no fazer cultural da cidade. Lá se viam poetas, escritores, artistas plásticos, músicos, amantes do cinema.
Palocha, discreto, simples, humilde, mas bem articulado, era um dos líderes do movimento. Figura singular na paisagem humana natalense, sabia ser ouvido, conquistava simpatia, fazia amigos."
O artigo de Woden não termina aqui, todos devem ler a sua respeitável coluna, pois somente a sensibilidade de um cronista da cidade é capaz de perceber que, entre pessoas humildes, também existem grandes personagens da nossa história.
Não ficou por menos a Cena Urbana do estimado e respeitado Vicente Serejo que, em sua coluna de 28 de agosto revelou "O sonho de Palocha" e também foi tomado de surpresa com a triste notícia (bateu no rosto como um soco).
"Nem lembrava mais que Paulo Francineti da Rocha era o seu nome completo. Pra quê, se ele gostava de ser só Palocha, numa simplicidade sem mágoa? Sabia exercer seu ofício de guardador de lembranças. Era sua grande nobreza, quase invisível, meio escondida naquele seu corpo franzino que parecia flutuar de tão leve. ... Sabia tudo de cinema sem aquele pedantismo tolo dos cinéfilos." ...
Seu sonho não se realizou - não tirou na mega-sena e não pôde comprar o o prédio do Rio Grande.
Agora a casinha da Av. Afonso Pena, 591 é só uma lembrança do seu habitante ilustre.
Certamente - outra Confraria está agora reunida. Além de Moacy Cirne, lembro Tarcísio Motta, o mais vexado a partir, depois o Embaixador (Fernando Abbott), o Acadêmico Pedro Vicente Costa Sobrinho, Dr. José Pinto, Alma do Vaqueiro (Francisco de Paula Medeiros), e agora ele.
Vai deixar saudade e órfãos os seus muitos amigos. Deus o proteja "ad perpetua memoria".

Dr. Carlos de Miranda Gomes.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

" Uns contos ordinários" é o novo livro que Cellina Muniz lança no dia 29 de julho, na Capitania das Artes, às 19h. O livro reúne 11 histórias que a autora escreveu desde que chegou a Natal, em 2010. Com várias referências sobre a cidade, Muniz trata de temas como solidão, alucinação e paixão a partir de situações flagradas do cotidiano de personagens demasiadamente humanos. Editado pelo selo alternativo ED!BAR, o livro é enriquecido pelas ilustrações do cearense André Dias e será vendido ao preço de 3 cervejas.


De Lirícos e de Loucos.. Que barato..


Lançado em 1980, como 12º volume da Coleção Edições Clima, De Líricos e de Loucos é um dos melhores livros de literatura norte-rio-grandense do século XX. Uma leitura tão prazerosa que cura qualquer tentativa de mau humor, angustia, cara feia, depressão ou coisa parecida.
A prosa de Vovô (como Augusto Severo Neto era chamado carinhosamente pelos amigos, convence o leitor no primeiro parágrafo. De líricos e de Loucos foi escrito com o falar, o linguajar de cada personagem. Augusto detalha na abertura: “Olha aí, companheiro: isso é uma ruma de historias de mesmo. De uma eu participei. De outras fui assistente, testemunha ou o que seja. Gostaria de contá-las a vocês diante de um copo de vinho, uma cerveja, ou,ate, uma boa cana. Mas nem sempre se pode fazer tudo”.
De Líricos  e de loucos tem 50 personagens, com historias maravilhosas. Começa com Zé areia, Raimundo Haja Pau, Calemba, Luiz Tavares, Samoa, Nestor, Doutor Underwood, O mudinho, O Conde, Boquinha, Julia Aguia, Bernadete, Joca Lyra, João Lyra, Armandinho de Gois, Paulo Lyra, Jorge Palito, Doutor Choque, Albimar Marinho, Morvan Dantas, Ribamar, Pedro Milaco, Caju, Das Neves, Zé Menininho, Raimundo Bamba, Zé Andre, Inácio Magalhães de Sena, Liliu, Oracio Barbalho, Severina, João Alfredo Pegado Cortez, Pio Barreto, Berilo Wanderley, João Machado, João de Brito Namorado, Hernani Hugo, Newton Navarro, Tota Zerôncio, Otavio da Brahma, Dom Marcolino Dantas, Roberto Freire, Rosa Negra, Manoel Josue, Salviano Gurgel, Renato Caldas, Belinho, Luiz Romão, Ivanildo (Deus), Cloro da Farmácia e Felinto Lucio.
Dos 50 personagens do livro de Augusto Severo, dois continuam entre nós, frequentando o Sebo Vermelho: Deus (Ivanildo Correia de Paiva) e o Bispo de Taipu (Inácio Magalhães de Sena).
Esta reedição é uma homenagem ao poeta, cronista, romancista, memorialista, boêmio e amigo Augusto Severo Neto, que nasceu em Natal a 22/04/1921 e faleceu em Pirangi do Sul, dia 16/04/1991, onde está sepultado.

Abimael Silva
Sebista e Editor

Coisas lá de Nós


Leitor abanque-se para a boa prosa. Aquela que, sendo acolhedora, ensina e diverte. O sertão arcaico encontra-se aqui em sua plenitude narrativa. De maneira que,sob vários aspectos, este é um livro que já toma ótimo assento dentre as obras memorialísticas do Seridó. Sua marca maior é cozer a história familiar à memória praticada sobre o cotidiano sertanejo. O texto presentifica a vivência partilhada no dia-a-dia dos sítios de criação de gados e plantações seridoenses. É uma história do cotidiano com todos os seus apetrechos e estratégias usados para a fabricação da alma do Seridó. O leitor compreenderá a ambiênciados campos, das casas de taipa, de alvenaria e de outros espaços de domesticidade e intimidade. Espreitará os fazeres, os haveres e os saberes de uma região cujo maior patrimônio é certa militância pela memória narrada. Para além da memorialística familiar autorreferente, o livro evoca o tirocínio de uma sociedade semeadora de fecundas conexões com seu meio natural. Neste sentido, recorda a sabedoria sertaneja acumulada nas afinadas observações  climáticas, botânicas, zoológicas, geológicas, em uma palavra, cósmicas. Experiências que foram e são utilizadas no engenho de sua sobrevivência através da alimentação, dos afazeres e das artes curativas. O trabalho nos sertões poderia ter sua rudeza espelhada na caatinga e lajedos, mas sua rotina amolecia-se nas brincadeiras, jogos e festas tão bem descritas pelos autores. Se por um lado, os costumes sertanejos são neste livro solfejados um a um, por outro, há uma imensa galeria de personagens familiares, cujos traços fortes cobram o enredo de um romancista. São como aquelas figuras que aparecem emolduradas em antigas casas de fazendas, como guardadas em cápsulas de tempo. Retratos cujos olhares sisudos e tensão postural assinalam famílias e constelam a região. Mas não adiantemos muito a novidade, melhor parar por aqui, e é bom o leitor pegar logo um lugar no espaçoso banco do alpendre. Boa leitura.

                Muirakytan K. de Macêdo

Nas Gavetas da Memória - por Yuno Silva


Fugindo da cataclismática seca de 1932, Joaquina muda-se ainda adolescente com a família de Apodi para Macaíba em busca de sobrevivência. Na capital potiguar é arrebatada por uma vida de prazeres mundanos e dinheiro ‘fácil’ como pupila da famosa cafetina Maria Boa, até cair nas graças do comandante de um navio cargueiro espanhol que transportava sal para a Europa. No Velho Mundo vê sua vida transformada após a morte do pai. Esse é o cenário da história imaginada há mais de 20 anos pelo jornalista veterano Ubirajara Macedo, e que só agora ganha forma nas páginas do livro “A saga de Joaquina – do Ateísmo ao Cristianismo”. A ficção, que o autor faz questão de não chamar de romance, será lançada neste próximo sábado (19), às 17h, no salão de festas do Edifício Morada Riomar, onde mora, na Av. Deodoro, Cidade Alta.
Na ocasião, o Centro de Direito Humanos e Memória Popular apresenta DVD-Rom sobre Macedo, que figurou na lista dos presos políticos durante o período da ditadura Militar aqui no RN. 

A saga de Joaquina ficou latente por uma década, bem guardada na memória do jornalista, até ser retomada meio que por acaso durante viagem internacional do autor no final dos anos 1990. “Lembrei de Joaquina durante um cruzeiro pela Grécia, na verdade foi meu colega de viagem (o médico) Paulo Frassinete que conhecia a história e, olhando pro Mar Egeu, disse que as águas tinham o azul dos olhos da personagem”, recorda. 

Quase 15 anos depois, Ubirajara decidiu passar tudo para o papel, e como não consegue mais digitar, ditou todo o livro para a enteada Virna Damasceno e a cuidadora Érica Glauciane Jerônimo, que trabalha com Ubirajara há seis anos. “Muita gente me ajudou a fazer esse livro”, comemora, “ficaram impressionadas (Virna e Érica) com a riqueza dos detalhes da história. Só agora no fim da vida me lembrei de escrever esse livro. Meus amigos sempre disseram que Joaquina merecia um livro”. 

O processo de feitura da obra levou cerca de quatro meses. A publicação sai com chancela da Sebo Vermelho Edições e o preço de capa é R$ 25.

O livro é pura ficção, mas os lugares por onde a protagonista andou e alguns nomes com quem ela topou ao longo de sua trajetória são verdadeiros, como a própria Maria Boa e o professor Antônio Corcino de Macedo, pai de Ubirajara, que lecionava no distrito de Jundiaí e, no livro, ensina o be-a-bá à Joaquina. Apesar de ter conhecido uma Joaquina em Macaíba há muito tempo, o autor garante que não há nenhuma relação. “Peguei só o nome emprestado. A história surgiu sem referências externas, ninguém me disse nada”, garantiu.

Ele diz não ter outras histórias “na cabeça”, e se “tivesse idade” escreveria sobre suas viagens ao lado da esposa Dona Lourdinha, com quem está casado há 14 anos – os lugares citados como mais inspiradores foram Chile, Cuba, Paris, Budapeste (Hungria) e a Turquia. Durante a entrevista, inclusive, reclamou do estado de saúde: Ubirajara Macedo está se recuperando da quarta pneumonia seguida. “Estou em um momento ruim, meio doente”, avisou. Nascido em Macaíba no dia 1º de março de 1920, faz questão de dizer que tem quase 94 anos e meio.

“Não sou comunista”
Esse é o terceiro livro de Ubirajara Macedo. O primeiro, “E lá fora se falava em liberdade”, foi escrito entre 1964 e 65, durante os 11 meses que o jornalista ficou detido pelo regime Militar sob acusação de subversão comunismo. “Sou católico apostólico romano, sobrinho de Dom Joaquim de Almeida, o primeiro bispo de Natal, não tinha como ser comunista”. Ele trabalhou no jornal do ex-prefeito Djalma Maranhão, onde matinha uma coluna que lançava críticas ferinas onde tratava os norte-americanos como imperialistas. “E são mesmo! Sou de esquerda, permaneço de esquerda, mas não sou comunista”, avisa.

Na época ele ficou preso com o médico Vulpiano Cavalcanti (1911-1988), esse sim Comunista com C maiúsculo, e o educador Moacyr de Góes (1930-2009). 

No segundo título, publicado em 2008, Macedo conta a história do Clambom (Clube dos Amantes da Boa Música), grupo que ajudou a fundar em 1992 com o radialista Luiz Cordeiro na casa da cantora Glorinha Oliveira. Entre o segundo e este terceiro livro, Nelson Patriota lançou a biografia “No outono da memória – O jornalista Ubirajara Macedo conta a história da sua vida” (2009).

Ubirajara Macedo morou por cinco anos em São Paulo, após ser liberado pelos Militares. Na capital paulista trabalhou como secretário da presidência dos Correios. Como jornalista atuou em rádios, na Folha de São Paulo e na Editora Abril. Em Natal, trabalhou algum tempo nesta TRIBUNA DO NORTE e fincou bandeira no extinto Diário de Natal. Fez parte da primeira gestão do Sindicato dos Jornalistas, como vice na chapa de Arlindo Freire.

Coleção
Roberto Monte, um dos coordenadores do Centro de Direito Humanos e Memória Popular, que vem levantando informações sobre os chamados Anos de Chumbo, vem trabalhando na coleção Memória das Lutas Populares do RN. Monte contou que suas pesquisas levantaram 400 nomes de potiguares reprimidos no período da ditadura Militar, e que 17 deles ganharam destaque na coleção, como Ubirajara Macedo, Glênio Sá, Juliano Siqueira, Mery Medeiros e Dermi Azevedo. “Temos depoimentos gravados desde 1989, muito material inédito, e este DVD-Rom (áudio, vídeo, fotos e textos) traz documentos importantes da vida de cada um desses personagens”. O depoimento de Macedo foi gravado há quatro anos.
www.tribunadonorte.com.br

Frankie Marcone

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

REBARBATIVO, NÃO.PASSIONAL


Não poderia deixar de falar de um velho amigo,MOACY CIRNE, que conheci aos dezessete anos, vindo do Sertão de Caicó para morar em Natal.Da mesma idade,construímos nossa amizade, respeitando nossas diferenças e acentuando nossas semelhanças. Ele se dizendo ateu e eu, cristão.Ambos procurando um sentido para vida. Ele lendo Sartre e eu, o existencialismo católico.Até que entrou o diálogo entre marxistas e cristãos, João XXIII e Kruschev se entendendo.Ingressei na Ação Popular e ele, já no Rio de Janeiro, ingressou no Partido Operário Comunista, uma dissidência trotskista.Mas antes da angústia existencial, bem antes de Marx, Gramsci, O Livo Vermelho de Mao Tsé-Tung, a guerrilha de Che Guevara, havia o amor pela arte. a literatura, e a paixão pelas mulheres que tratávamos como damas, nos cabarés da Ribeira, zona portuária.O que admirava neste amigo era a paixão.Quadrinhos (o primeiro a publicar no Brasil livro sobre o tema), a Teoria Literária, o Cinema,o Futebol (torcedor do Fluminense), a Vida.Detestava os hábitos burgueses, os signos do capitalismo, consumismo, a indústria cinematográfica hollywoodiana, Coca Cola.os shoppings.Detestava o academicismo.Largou o curso de Direito, na Faculdade da UFRN, alegando que pouco tinha que aprender ali.No Rio ingressou na Revista Vozes, onde foi editor e publicou livros que começaram ter recpetividade tanto no meio acadêmico e fora dele.Ficou conhecido por integrar o movimento vanguardístico do Poema Processo, ao lado de Wlademir Dias-Pino, Álvaro de Sá e outros.Foi um dos fundadores do PT, nunca renegando seu ideário.Mesmo quando abandonou a militãncia política. Na ultima conversa que tivemos, disse estar satisfeito com os rumos que o seu partido tomava. e mais: falou que José Dirceu fazia parte da história do PT e do país.(Concordei, dizendo-lhe que em minha carreira jurídica tive muitas decepções).Meu amigo Moacy nunca se graduou em Univerisdade nenhuma, mas foi convidado para ensinar na Universidade Federal Fluminense em Niterói.Contentou-se com o título de "notório saber" que lhe foi outorgado pela Universidade onde lecionava e onde chegou a ser Chefe do Departamento de Comunicação Social.Nunca se afastou do Rio Grande do Norte, principalmente da Região do Seridó.A paixão foi o seu método, para chegar aonde queria: o Comunismo ou à Terra de São Saruê, a utópica pátria dos sertanejos segundo os cordéis de feira dos pobres camponeses.Tinha costumes simples. Com sua barba podia ser confundido com Marx, um profeta sertanejo de Caicó, ou de Canudos.Havia,claro, os reacionários e preconceituosos que o detestavam.Eu, parodiando Lafargue, chamava-o de Jeová Barbudo de Caicó.Rebarbativo, não. PASSIONAL!!!

Jarbas Martins