domingo, 30 de junho de 2013

Três momentos dentro do cangaço

ReproduçãoLampeão: Sua História, de Érico de AlmeidaLampeão: Sua História, de Érico de Almeida
A figura controversa do cangaceiro Virgolino ‘Lampião’ Ferreira, Virgolino (1898-1938) com “o” que é a maneira correta de grafar o nome verdadeiro do mais famoso e temido dos anti-heróis brasileiros de acordo com a página eletrônica (infonet.com.br/lampiao) mantida pela neta do cangaceiro Vera Ferreira, permeia os três novos lançamentos da Sebo Vermelho Edições agendados para este  próximo sábado (29), das 9h às 12h, no próprio sebo na Av. Rio Branco – Centro.

“Quem é quem no cangaço”, de Paulo Medeiros Gastão; “O Cabeleira”, de Franklin Távora; e “Lampeão – sua história”, primeira biografia sobre o cangaceiro escrita em 1926 pelo paraibano Érico de Almeida, fazem parte da Coleção João Nicodemos de Lima que chega ao volume 378. “É mais uma raridade da bibliografia do cangaço que o Sebo Vermelho reedita em edição fac-similar, para conhecimento das novas gerações”, comentou Abimael Silva sobre a biografia pioneira escrita mais de uma década antes da morte de Lampião (com “i”, segundo Vera Ferreira).

Escritor e jornalista, Érico de Almeida escreveu 14 capítulos sobre a presença de Lampião na Paraíba, Pernambuco, Ceará e Alagoas; sendo o último capítulo um depoimento do também cangaceiro Antônio Silvino (1875-1944) sobre Lampião.

ReproduçãoQuem É Quem No Cangaço, de Paulo Medeiros GastãoQuem É Quem No Cangaço, de Paulo Medeiros Gastão
Já “Quem é quem no cangaço”, do pernambucano Paulo Medeiros Gastão, 74, trata-se de uma obra referência que funciona como ponto de partida para quem quer conhecer a ‘literatura cangaceira’. O livro, originalmente publicado em 2012, traz uma vasta lista com nomes de autores de todo o Brasil que abordaram o tema em várias épocas – os potiguares Lauro da Escóssia, Juvenal Lamartine, Câmara Cascudo e Iaperi Araújo são alguns dos citados na obra.

ReproduçãoO Cabeleira, de Franklin TávoraO Cabeleira, de Franklin Távora
Enquanto “O Cabeleira”, editado pela primeira vez em 1876 e que também vem em versão fac-símile, traz o cangaço para o universo urbano. Contemporâneo de Visconde de Taunay, José de Alencar, Machado de Assis e Joaquim Manoel de Macedo, o cearense Franklin Távora (1842-1888) foi um dos pioneiros do chamado romance regionalista com este romance. O livro, o primeiro registro da literatura brasileira a ter um cangaceiro como personagem central, narra as aventuras e desventuras do cangaceiro José Gomes na cidade do Recife do século 18.

“Ótima leitura para quem aprecia, detesta ou espreita o cangaço”, garante o sebista e editor Abimael Silva.

Serviço: Lançamento dos livros “Quem é quem no cangaço” (R$ 30), de Paulo Medeiros Gastão; “O Cabeleira” (R$ 25), de Franklin Távora; e “Lampeão – sua história” (R$ 25), de Érico de Almeida. Sábado (29), das 9h às 12h, no Sebo Vermelho – Av. Rio Branco, 705, Cidade Alta.
 Fonte: Tribuna do Norte ---- www.tribunadonorte.com.br

domingo, 16 de junho de 2013

Um Rio Grande do Norte a ser descoberto, um livro importantíssimo da literatura do RN, redescobereto pelo Sebo Vermelho. Apresentação do Jornalista Vicente Serejo









Há vários anos dorme numa destas estantes um exemplar, não autografado, de um livreto tamanho opúsculo que reúne nas suas trinta e uma páginas o texto ‘Aspectos Norte-Riograndenses, dados e informações’, além de tabelas e quadros em folhas não numeradas. É a conferência que Domingos Barros leu na noite de 9 de dezembro de 1908, no salão do Museu Comercial, no Rio, representando o Rio Grande do Norte na Exposição Nacional das riquezas econômicas do Brasil.
            Durante muito tempo, calado e sem pressa, segui os seus passos. Vi a publicação na revista do Instituto Histórico - tem aqui a coleção completa - quatro capítulos em A República, de 28 a 31 de dezembro de 1909, o mesmo ano da publicação autônoma e por uma indicação do historiador Olavo de Medeiros Filho. Anotei sua publicação original no Jornal do Comércio, do Rio, além de informações também preciosas que devo a Willian Pinheiro, pesquisador seridoense de olhar certeiro e aguçado.
            A grande luz que alumiou a figura singular de Domingos Barros foi Manoel Dantas, mas ficou na primeira década do século passado. Tanto que, em setembro de 2006, o jornalista Woden Madruga confessou ter lido pela primeira vez o nome de Domingos Barros numa citação do livro do francês Paul Walle. Há no Instituto Histórico um exemplar autografado da edição francesa, original de 1910 - hoje traduzido por Oswaldo Biato e lançado pelo Senado Federal depois de publicado há quase um século.  
É forte sua presença na forma de citações em Tavares de Lyra, principalmente no ensaio ‘O Rio Grande do Norte’, de 1912, que também vive aqui, ao lado de sua História, esta de 1921. E no ‘Memória do Livro Potiguar’, de Manoel Rodrigues de Melo. Paul Walle elogia a cultura de Barros no capítulo que dedica ao Estado em seu livro de viagem ‘No Brasil, do Rio São Francisco ao Amazonas’, a quem classifica como um homem verdadeiramente sábio e erudito com raro conhecimento do Brasil.
            Foi de Domingos Barros a primeira percepção motivadora para vender a riqueza econômica do Estado no cenário nacional. A sala da exposição do Rio Grande do Norte, no Palácio do Comércio, no Rio, atraiu a atenção do presidente Afonso Pena e de dois dos seus ministros. Registra a edição de 8 de outubro de 1908 de O Paiz: ‘Foram demoradamente examinadas por Sua Excelência - o presidente Afonso Pena - com especial atenção, a exposição da Companhia Sal e Navegação e os diapositivos estereoscópicos do Dr. Domingos de Barros, tendo sido as mais entusiastas e lisonjeiras as referências de Sua Excelência a uma e outra’.
            Depois da repercussão da conferência impressa na Tipografia Jornal do Comercio, Rio, 1908, e que teve também na platéia a presença ilustre de ministros, o norte-rio-grandense Tavares de Lyra, ministro do Interior e Justiça, e Miguel Calmon, de Viação e Obras; e do então deputado federal Eloy de Souza, sua segunda consagração aconteceu em Natal. Manuel Dantas anuncia a transcrição em A República depois do sucesso nas páginas do Jornal do Commercio, do Rio. É saudado efusivamente pelo próprio Manoel Dantas, com o pseudônimo de Braz Contente, por ter sido merecedor ‘do elogio unânime da imprensa fluminense’.
            Domingos, a rigor, não era totalmente um estrangeiro na Natal do início do século vinte. Ao contrário. Casado com Leonor, filha de Fabrício Gomes de Albuquerque Maranhão, era sobrinha de Pedro Velho, Augusto Severo e Alberto Maranhão.  
            Ele estava no então Teatro Carlos Gomes, como noticia A República de 31 de janeiro de 1909, na reunião com o governador Alberto Maranhão, quando um grupo de amigos aprovou a campanha de aquisição de uma casa para a viúva e os filhos do poeta Segundo Wanderley; a edição de suas obras poéticas e o planejamento daquele que seria o evento cultural mais importante na década de abertura do Século XX: as conferências de Manuel Dantas, Eloy de Souza, Domingos Barros, Honório Carrilho e Henrique Castriciano promovidas pelo pequeno e sempre bem humorado jornal literário O Bloco. Eloy abriu com os Costumes Locais e Manuel Dantas com sua célebre visão de uma Natal futurista.
            A conferência de 1908, de Domingos Barros, é a demonstração do seu espírito empreendedor, razão da inveja provinciana da qual acabaria vítima. É a primeira visão grande-angular da economia do Rio Grande do Norte e os benefícios, se exploradas corretamente, para as futuras conquistas sociais. E revela, em seu levantamento surpreendente, nossos rebanhos bovinos e caprinos, a produção de açúcar, cera de carnaúba, algodão, sal marinho, borracha de maniçoba e mangaba, e as pequenas lavouras. Em cada região e com suas especificidades, agrupando produtos e produtores nos espaços e ao longo dos textos e quadros elaborados pelo seu talento observador.
           



Sua sensibilidade não se volta apenas para a economia. Impressiona vivamente sua descrição da vaqueirice no sertão: ‘No entanto o mister do sertanejo é árduo e penoso e reclama uma alma forte e varonil, aliada à grande destreza e robustez física’. E logo a seguir: ‘Vaqueiro no sertão só o é o sertanejo, porque a lide do gado é muito diversa da dos campos do sul’. E descreve o sertão: ‘Há poucos descampados. O aspecto geral é a caatinga, espécie de floresta baixa, intrincada e espessa, onde predominam as plantas espinhosas, a jurema, a favela, o xique-xique e o mandacaru’.  E narra essa luta dos homens e dos bichos numa orquestração de gestos e ritmos na aspereza da caatinga.
            A orfandade pobre impediu Domingos Barros de concluir, já no quarto ano, seu curso de medicina, mas conseguiu aprofundar seus conhecimentos de química. Ao lado de Vale de Miranda, o inventor da Sanarina, produziu o sal de qualidade aqui no Estado para o mercado da carne de charque no Rio Grande do Sul, e instalou o sistema de iluminação do Teatro Carlos Gomes a gás acetileno. Um desafio que uniu seu talento ao de Vale de Miranda e os credenciou para a construção do sistema de iluminação da cidade. Sonhou com ferrovias, indústrias, invenções.
Foi um entusiasta da Aeronáutica Brasileira e com esse título reuniu os três ensaios biográficos sobre Bartolomeu de Gusmão, Santos Dumont e Augusto Severo, como narra Augusto Fernandes no capítulo onze do seu livro ‘O Pioneiro Esquecido’. Domingos nasceu em Garanhuns, Pernambuco, a 4 de março de 1865 e fechou seus olhos para sempre a 14 de fevereiro de 1938, no Rio, dois anos antes do Ministério da Aeronáutica lançar seu livro na coleção oficial, em 1940, pela editora Americana.
A publicação desta edição fac-similar de ‘Aspectos Norte-Riograndenses’ pelo Sebo Vermelho, do editor Abimael Silva, é um grande sol que nasce depois da longa noite de 104 anos que apagou a presença de Domingos Barros. Esquecido das nossas instituições culturais ao longo de mais de um século sem nunca merecer uma réstia de luz sobre o seu rosto, deixa agora de ser o herói desaparecido e anônimo a vagar no silêncio da noite sem fim para brilhar de novo com a velha chama do seu talento luminoso que anteviu o futuro de um Rio Grande do Norte que ninguém percebia.    

2012, nos cajus perfumados do verão.

Vicente Serejo

Um virgulino de corpo e alma.. Mais uma grande reedição da Coleção João Nicodemos de Lima sobre o Cangaço.




Lampeão Sua História é a primeira biografia do rei do cangaço, publicada em 1926, no governo de João Suassuna, pai Ariano, que patrocinou a editoração, como Governador  do Estado da Paraíba.
O escritor e jornalista Érico de Almeida escreveu 14 capitulos sobre a presença de Lampião na Paraíba, Pernambuco, Ceará e Alagoas. O primeiro capitulo é só elogios ao presidente Suassuna, chamando-o de O Anjo do Bem, O Salvador de Flores  e o  ultimo é o depoimento de Antonio Silvino sobre Lampião. Em 1925 o coronel Jose Medeiros de Siqueira Campos, chefe político de Flores, visitou Antonio Silvino na cadeia do Recife. Após variada palestra diz Silvino para seu ilustre visitante: “ – Coronel, dê-me  notícias de Lampião. – Lampião, retorquiu o coronel Medeiros , Lampião anda danado pelo navio a cometer horrores. Silvino baixou a cabeça, parecendo refletir profundamente .  Após uns momentos reergueu-a  e dando um suspiro disse: Lampião, Coronel  é um príncipe. Eu é que não soube  ser cangaceiro...”
O livro de Érico de Almeida tem a origem do apelido Lampião, a morte do coronel Luiz Gonzaga, da cidade de Belmonte, em 1922.
No final tem uma relação de vitimas de Virgulino Ferreira, de 1921 à 1925. 98 mortos em Pernambuco e 17 em Alagoas.
É mais uma raridade da bibliografia do cangaço que o Sebo Vermelho reedita em edição fac-similar, para o conhecimento das novas gerações.

Abimael Silva
Sebista e Editor

Uma história de tirar o fôlego.. Cabeleira, uma jóia da Literatura do Cangaço.



O sangue escorre na faca afiada de Cabeleira. Nem por isso, menos ternura. Eis aqui uma versão do cabra na voz de Franklin Távora. Contemporâneo de Visconde de Taunay, José de Alencar, Machado de Assis e Joaquim Manoel de Macedo, Franklin Távora foi um dos criadores do romance regionalista com a publicação de O Cabeleira em 1876( que o Sebo Vermelho reedita no presente momento). Nesse romance, narra as aventuras e desventuras do cangaceiro José Gomes na cidade do Recife do século XVIII. Trata-se do primeiro registro da literatura brasileira a ter um cangaceiro como personagem central.
Cearense do Maciço do Baturité, terra de gente invocada, João Franklin da Silveira Távora nasceu no dia 13 de janeiro de 1842 e faleceu no Rio de Janeiro em 18/08/1888. Fez os primeiros estudos em Fortaleza e se formou em Direito no Recife, em 1874, quando passou a residir no Rio de Janeiro.
Em 1870 fez cerrada campanha contra o conterrâneo romancista José de Alencar, por não concordar com seu romantismo idealista.
Publicou os seguintes títulos:" A trindade maldita" (contos, 1861), Um mistério de família (1861, drama), "Os índios do Jaguaribe" (1862, romance histórico); A Casa de Palha (1866, romance); " Um casamento no Arrabalde" (1869, romance); " Três lágrimas" (1870, drama); "Cartas de Semprônio a Cicinato", (1871); "O Cabeleira" (1874, romance); "O matuto" (1878, crônicas); "Lourenço" (1878, romance); "Lendas e tradições do Norte" (1878, folclore); "Sacrifício" (1879, romance).
A dureza do sertâo, do sol seco e salgado, do espinho do mandacaru à sombra do urubu, de repente, ganham outras matizes nas palavras de Franklin Távora: um QUÊ de doçura de rapadura, um QUÊ de mel de jandaíra, UM AQUELE de paixão que não se resolve.
Mais uma leitura para quem aprecia/detesta/espreita o CANGAÇO.
Abimael Silva - Sebista e editor