sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Um texto de Jarbas Martins sobre Ferreira Gullar


O estilo de Machado de Assis está, há muito, canonizado, o poema/processo, cansado de guerra, pregou em épocas heróicas o contra-estilo, o canonizadíssimo Millor Fernandes se diz um escritor sem estilo.Ulisses desconfiadíssimo, descendentes de índios esquivos e taciturnos, tenho cá minhas prevenções contra certos estilos. O caviloso estilo, por exemplo, de mistificadores como Arnaldo Jabor, que escreveu prólogos até para os teóricos (pasmem) do poema/processo.Lábia muita.Ainda bem que não se meteu a escrever poesia, que só exige de quem faz uma coisa: a autenticidade, o despojamento que a liberta de tudo o que a mascara.O estilo pode ser mentiroso como uma logomarca, a poesia não. Existe alguém mais verdadeiro que Homero? Grande documentarista, tudo o que registrou espelha a verdade: os olhos bovinos de Atena, a coifa de Circe, os seus personagens capazes de grandes gestos, ou envolvidos em mesquinharias e fofocas, próprias dos cidadãos de todos os tempos, inclusive da sua época. Levando em conta esse critério (o que é o verdadeiro em poesia) é que ando fazendo uma reavaliação na obra de certos poetas. Que, mudando de tom, dicção, modos falaciosos de sonhar, pensar e agir, afetam a sua arte. E tentam passar como poesia a mentira. Poetas que foram tentados pelas facilidades. O som de azinhavre das sereias, a arrogância do poder, o oportunismo. O poeta Ferreira Gullar, que recentemente ganhou o Prêmio Camões, é um deles. Quando escreveu o Poema Sujo eu o julguei tão verdadeiro, que lhe dediquei um poema. Não me arrependi. O meu poema expressava uma verdade, e o Poema Sujo, além da verdade, era clarividente: o Maranhão, terra de Gullar, estava ali com toda a sua tragédia. Infelizmente, a obra do maranhense revela atualmente o mau poeta que nele existe. É só olhar para o seu estilo que cheira a oportunismos, convencionalismos e outras falcatruas.

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