sexta-feira, 18 de julho de 2014

Coisas lá de Nós


Leitor abanque-se para a boa prosa. Aquela que, sendo acolhedora, ensina e diverte. O sertão arcaico encontra-se aqui em sua plenitude narrativa. De maneira que,sob vários aspectos, este é um livro que já toma ótimo assento dentre as obras memorialísticas do Seridó. Sua marca maior é cozer a história familiar à memória praticada sobre o cotidiano sertanejo. O texto presentifica a vivência partilhada no dia-a-dia dos sítios de criação de gados e plantações seridoenses. É uma história do cotidiano com todos os seus apetrechos e estratégias usados para a fabricação da alma do Seridó. O leitor compreenderá a ambiênciados campos, das casas de taipa, de alvenaria e de outros espaços de domesticidade e intimidade. Espreitará os fazeres, os haveres e os saberes de uma região cujo maior patrimônio é certa militância pela memória narrada. Para além da memorialística familiar autorreferente, o livro evoca o tirocínio de uma sociedade semeadora de fecundas conexões com seu meio natural. Neste sentido, recorda a sabedoria sertaneja acumulada nas afinadas observações  climáticas, botânicas, zoológicas, geológicas, em uma palavra, cósmicas. Experiências que foram e são utilizadas no engenho de sua sobrevivência através da alimentação, dos afazeres e das artes curativas. O trabalho nos sertões poderia ter sua rudeza espelhada na caatinga e lajedos, mas sua rotina amolecia-se nas brincadeiras, jogos e festas tão bem descritas pelos autores. Se por um lado, os costumes sertanejos são neste livro solfejados um a um, por outro, há uma imensa galeria de personagens familiares, cujos traços fortes cobram o enredo de um romancista. São como aquelas figuras que aparecem emolduradas em antigas casas de fazendas, como guardadas em cápsulas de tempo. Retratos cujos olhares sisudos e tensão postural assinalam famílias e constelam a região. Mas não adiantemos muito a novidade, melhor parar por aqui, e é bom o leitor pegar logo um lugar no espaçoso banco do alpendre. Boa leitura.

                Muirakytan K. de Macêdo

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