segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Morre o chargista Antonio Amâncio. Ele foi um dos primeiros a denunciar as mazelas da nossa desgovernadora. Seu genial sarcasmo fará muita falta por aqui. RIP, Amâncio.


A imprensa norte-rio-grandense perdeu hoje um dos seus talentos gráficos mais combativos, o chargista Antonio Amâncio, vítima de um acidente automobilístico sofrido durante o feriadão, quando iria visitar a família em Macau. 

Durante meu tempo de redação, nunca tive a oportunidade de trabalhar com Amâncio. Conheci-o durante o lançamento de uma coletânea de suas obras, no Bardallo's, que rendeu um papo ligeiro, mas agradável. Quem era da sua lista de amigos neste facebook com certeza deve ter recebido inúmeras mensagens privadas pedindo para curtir/compartilhar suas charges sempre que ele as postava por aqui.

Amâncio não tinha um traço muito sofisticado (apesar de um ser um bom caricaturista) e nem sempre a execução da ideia em suas charges alcançava a sutileza dos mestres nesse ofício, porém possuía uma característica que o destacava, de longe, de seus colegas na imprensa potiguar: o caráter predominantemente político de suas charges. 

Certamente pelo seu intenso envolvimento com o sindicalismo, Amâncio invariavelmente direcionava seus ataques para os donos do poder, dando nome e cara (feia) aos bois. Poucos entenderam, no RN, o sentido original do termo 'charge' como gênero jornalístico. E falar de poder, aliás, contra o poder no Rio Grande do Norte não é tarefa pequena nem fácil. 

O fato de uma destas charges ter motivado sua saída da Tribuna do Norte só aumenta e valoriza sua biografia profissional - além de diminuir a do jornal e a do casal de pistoleiros do Oeste que tomaram de assalto o Governo do Estado. 

Não pensem que tal mesquinharia é exclusividade dos provincianos mossoroenses. Testemunhei certa vez um colega chargista ser proibido de retratar a ex-governadora Wilma de Faria e seu esfuziante penteado laqueado, depois que ela telefonou para o diretor do veículo e reclamou da sua feiura exterior (como se a interior já não bastasse).

Por ironia do mercado e demonstrando as incongruências desse cruel jornalismo tribal a que estamos submetidos, Amâncio encerrou sua carreira como chargista do Jornal de Hoje, um noticioso comumente achincalhado pelos livres-pensadores da terrinha por sua subserviência a "quem pagar mais", mas onde diariamente ele podia fazer o que sabia como poucos: bater em quem merece. 

Valeu, Amâncio. Pelo exemplo. Pela luta. Alex de Souza

http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2013/11/morre-chargista-antonio-amancio-vitima-de-acidente-na-br-406-no-rn.html


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