quinta-feira, 22 de julho de 2010

LANCE DE MUNDOS..SEBO VERMELHO 300 EDIÇÕES


Maria Betânia Monteiro - repórter

Livros esquecidos. Esgotados. Ocultos. Importantes. Autores renomados. Criativos. Representativos. Outros nem tanto. Temas regionais. O sertanejo. A poesia. A prosa potiguar. Pequenos. Médios. Em tamanho, nenhum grande. 300 livros publicados no Rio Grande do Norte. O maior número do Estado. Não se trata de uma grande editora, ou livraria. A realização do ato, que o próprio “autor da obra” chama de “feito”, é o Sebo Vermelho. Único no Brasil a editar livros.

Kamilo MarinhoAbimael Silva é apaixonado por livros e fez disso sua devoção. Hoje é o maior editor de livros do RNAbimael Silva é apaixonado por livros e fez disso sua devoção. Hoje é o maior editor de livros do RN
À frente do Sebo Vermelho, Abimael Silva. Ele não revelou em que lugar, mas traz um José no nome e outro na alma. “Todo José é teimoso”, disse Abimael. A maior das teimosias aconteceu há exatos 25 anos, quando decidiu largar o emprego de bancário para ser... Sebista. Encontrou o lugar: uma cigarreira na Rua Vigário Bartolomeu, ainda sem cor. Ao lado da sua, outras azuis, brancas, verdes, amarelas. Vermelha? Nenhuma. Então esta passou a ser a sua cor. “Não foi uma decisão política. Não sigo partidos. Sou um pouco anarquista”, disse. Além disso, o vendedor de livros salientou que o vermelho está relacionado à paixão, à vida.

O nome Sebo Vermelho veio na seqüência, assim como vieram os outros espaços por onde Abimael foi passando. Um deles bastante visitado por esta repórter ainda na infância, quando na companhia do padrasto e da mãe, ficava encafifada com o número de pessoas esquisitas que circulava pelo local, uma delas tocava flauta com as narinas. O que esta repórter não sabia era que estes homens e mulheres esquisitos estavam construindo a história de Natal. Pintores, escritores, intelectuais de toda à sorte.

O tempo passou. O sebo mudou-se ainda umas cinco vezes até chegar à movimentada Avenida Rio Branco, no centro da cidade. Os visitantes também mudaram, uns já têm cabelos brancos, outros nem cabelos têm e o homem que tocava flauta pelo nariz nunca mais foi visto. Quem passa pela avenida ainda tem a chance de encontrar Abimael sentado numa cadeira de balanço feita de madeira, mas a oportunidade é rara, pois o sonho do sebista é grande e ele precisa, literalmente, correr atrás.

Abimael deseja chegar aos cinqüenta anos, em 2013, com a marca de 500 livros editados pelo Sebo Vermelho. Os cálculos já foram feitos. É preciso editar cinqüenta por ano. Em 2010 com o de Moacy Cirne (lançado ontem), foram publicados 18, sob seus arranjos. O VIVER fez uma visita a Abimael, que falou ao lado, em cima, em baixo e sobre livros. Eles são muitos. Mais de 30 mil espalhados por todos os cantos. Na ocasião tinha um na mão de Nei Leandro de Castro, outro na mão do seridoense Alma de Vaqueiro. Aos poucos outras mãos foram chegando ao Sebo (vermelho só nas portas de ferro), dando abrigo a mais um livro.

Com a mão nervosa e as pernas cruzadas, Abimael falou o seguinte sobre editar livros: “Quem ganha dinheiro com livro é dono de livraria. Edito os livros por paixão”. Foi assim com o primeiro em 1991, “Écran Natalense”, de Anchieta Fernandes. Abimael conta que o escritor já tinha feito de tudo para publicar e não conseguia. Foi quando o sebista resolveu arregaçar as mangas, pedir a ajuda de amigos e colocar o livro no forno.

Depois de Écran, Abimael passou dois anos para publicar outro: “Poetas do Rio Grande do Norte”, de Ezequiel Wanderley. Para encurtar a conversa, Abimael pegou um dos seus livros e mostrou que ao final existia uma lista, constando os demais títulos. Todos incluídos numa única coleção, a “João Nicodemos de Lima”, nome em homenagem ao primeiro sebista de Natal, que ele lamenta ter conhecido apenas a sua história.

Na lista estão autores como Câmara Cascudo, Djalma Maranhão, Carlos de Souza, Diva Cunha, Pablo Capistrano, Vicente Vitoriano, Veríssimo de Melo, Ney Leandro de Castro e o próprio Abimael.

O sebista conta que ora os autores fazem contato, ora ele faz o contato com os autores. Há também o caso em que se depara com livros raros, que resolve reeditar em versões fac-similares (o que Abimael mais gosta de fazer).

Ele conta que o contato é tranqüilo, mas tem vezes que chegam a ser engraçados, como no dia em que um homem disse que queria publicar um livro só para ver sua foto impressa num jornal. Abimael também conta outra dessas histórias. “O cara chegou aqui e disse: quero fazer um livro, aí eu pago uma metade, tu paga a outra e a gente divide a sobra”.

Fora os já realizados ainda têm os contatos esperados. Abimael conta que sonha não só com o número 500, mas com os nomes de Woden Madruga e Sanderson Negreiros entre os autores da João Nicodemos.

Dificuldades? Abimael diz que são muitas. Tantas que prefere não falar de todas. Apenas a mais grave. A falta de incentivo público e revela: “Nunca, em quase 20 anos de publicação de títulos importantes para história do estado, um político veio ou mandou alguém aqui para comprar livros para bibliotecas públicas”.

E apesar da ausência do poder público, Abimael fala do futuro. De um novo selo: Cidades Seridoenses. O estreante da coleção é o fotógrafo João Maria Alvez, que traz Caicó, como tema. Outra novidade é a reedição de “Os Holandeses na Capitania do Rio Grande”, de Olavo Medeiros filhos. A data do lançamento ainda será divulgada.


FONTE: Jornal Tribuna do Norte
agradecimentos especiais ao Dir. de Redação: Carlos Peixoto, a Jornalista Maria Betânia Monteiro e ao fotográfo Kamilo Marinho

Um comentário:

  1. Caro Abimael,

    Tenho acompanhado as notícias do Sebo Vermelho.Escrevo para o Blog VNT de Várzea, nossa cidade natal. Estou em Brasília já faz 26 anos, mas nunca lembro de esquecer das minhas raízes varzeanas. Lembro de você e de sua querida família, de sua batalhadora mãe e do seu pai. Temos alguma coisa parecida: somos sonhadores, daqueles que não desistem da peleja, apesar dos sonhos acordados pesarem um bocado. Sinto-me deveras orgulhoso do seu empreendimento, da sua luta e da abnegação em continuar batalhando pelas letras potiguares. Quero aqui lhe deixar meu abraço e dizer do meu orgulho de ser seu conterrâneo.
    Caro Abimael, acredite, seu trabalho é fantástico e enaltece a cultura literária potiguar sem paradigmas. Isso é algo de gigante beleza. Parabéns!

    Forte abraço de João Maria Ludugero da Silva, Advogado, servidor Público e aprendiz de poeta, escrevinhador da nossa terrinha querida, nossa Várzea de Ângelo Bezerra.
    Se quiser acessar meu blog: www.ludugero.blogspot.com

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