domingo, 13 de fevereiro de 2011

Lou Salomé, Paul Rée e Nietzsche. Por João da Mata Costa


Um Triângulo amoroso platônico. Uma mulher maravilhosa a conduzir o
homem, os homens de sua vida intelectualmente brilhante. Conviveu com os
grandes de sua época. Aquariana nascida em São Petersburgo, na Rússia,
rompeu com os dogmas da época e amava, sobretudo, a inteligência e a
alma humana, que ela conhecia profundamente. Lou conduz uma carroça
tendo Nieztzche e Rée como cavalos, e ela com o chicote na mão a
conduzi-los. Fantástico.
Lembrei do livro “El mito trágico de El Ângelus de Millet”, escrito por
Salvador Dali. O Ângelus de Millet, nec plus ultra do método
paranóico-crítico, comenta um pequeno e grande quadro do pintor
Jean-François Millet. Um quadro crepuscular onde aparece a mãe com as
mãos unidas em pose de oração, e o pai segurando o chapéu com a cabeça
levemente encurvada. Na interpretação paranóico-crítica-daliniana
observa-se muitas alusões incomodas sobre um “erotismo rural” que o
quadro tentava camuflar. A mãe podia ser uma variante da mãe fálica
egípcia com cabeça de abutre, e utiliza seu marido estranhamente
despersonalizado como um carrinho de mão, a transportar seu filho para
ser enterrado, ao tempo que fecunda a mulher, sendo ela a mãe-terra,
nutridora por excelência. A Mulher do quadro de Millet é uma Lou Salomé
a conduzir os passos do homem moderno e perplexo. A reunir pedaços que
foram esquartejados pela vida moderna. A mulher geradora e castradora. A
musa eterna. O terceiro nunca é escolhido, mas está presente.

Nietzche diz;

“ O verdadeiro homem quer duas coisa: perigo e diversão. Portanto ele
quer a mulher, o mais perigoso brinquedo”.



"Ouse, ouse... ouse tudo!!
Não tenha necessidade de nada!
Não tente adequar sua vida a modelos,
nem queira você mesma ser um modelo para ninguém.
Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.
Se você quer uma vida, aprenda a conquistá-la!
Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer.
Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:
algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!"

Lou Salomé


HINO À VIDA / Lou Andreas Salome

Eu te amo, vida enigmática
Que me tenhas feito exultar ou chorar,
Que me tenhas trazido felicidade ou sofrimento.
Amo-te com toda a tua crueldade,
E se deves me aniquilar,
Eu me arrancarei de teus braços
Como alguém se arranca do seio de um amigo.
Com todas as minhas forças te aperto!
Que tuas chamas me devorem,
No fogo do combate, permite-me
Sondar mais longe teu mistério.
Pensar, viver, durante milênios!
Aplica nisso tudo quanto tens!
E se não tens mais felicidade para me dar
Então, ainda tens teus sofrimentos!

Um comentário:

  1. A propósito do poema de Salomé, cite-se Nietzsche outra vez: " Não, a vida não me desiludiu! A cada ano eu a sinto mais verdadeira, mais desejável e misteriosa(...) a vida como meio de conhecimento - com este princípio no coração pode-se não apenas viver valentemente, mas até rir e viver alegremente (...)" (A Gaya Ciência, aforismo 324).

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