quinta-feira, 4 de março de 2010

Ilane Ferreira lança Vestígios com duas opções de capa.



Ana de Santana sobre os Vestígios de Ilane.


Procuro faróis entre meus guardados para seguir os vestígios de Ilane, que neste livro se insinuam nas sombras e nas cores. Como quem procura alguém querido embaixo da chuva noturna, leio seus versos em busca da mulher multifacetada, “dissolvida em partículas”. Encontro-a escrevendo em bilros para enovelar os medos, como ela mesma anuncia no poema “Rascunho”. A autora tece sua renda colocando seu universo como linha. Na peça rendada, a beleza surge em verso e prosa e em várias cores. Por vezes, o trançado é tão simples que comove pela profusão de sentidos gestados pela síntese. É o que sinto em “Poema”, cujo título é um vestígio do que a autora pensa da poesia. A leitora, a escritora, a mãe, e também a professora estão expostas nesses versos. O que ela sabe da poesia e ensina aos seus alunos, ela experimenta na maternidade e no trabalho de rendeira, metáfora de seu fazer poético. Simples assim:
A maternidade
dispensa palavras
constrói de gestos
os versos
Os gestos são, certamente, movimentos do amor. É ele o traço da poesia de Ilane. “Amar e amar, completamente, é o que importa”, diz a autora. Mas faz parte da renda amorosa, a dor. Por isso, encontramos alguns salpicos do sangue que escorre dos dedos feridos da rendeira que fia desiludida: “Foi porque amei devagar e me feri de você”. A desilusão é também a inevitável constatação do que poderia ter sido e que não foi:

E eu,
que sempre quis
ser neblina,
só consegui
ser farol
numa de tuas
esquinas.

A mim parece que Ilane conseguiu ser as duas coisas na sua poesia. Neblina porque não nos retira o prazer de ler o texto. Ela nos oferece uma bela peça de renda porque esconde os nós com um fino acabamento. Ela é farol porque escreve com luminosidade, evitando rebuscamentos que poderiam obscurecer os sentidos poéticos.
No fim, a autora se queixa de ser “escritora de meias palavras”. Que bom que é assim, porque a poesia não precisa de todas as palavras. Ela ainda diz que solta pedras no caminho tão curvo que a nada leva. Não é verdade. Porque não é linear é que não nos cansamos de ler a poesia de Ilane. E é assim porque seus vestígios nos levam a uma escrita rendada de chama e brilho.

SERVIÇO: Lançamento do Livro Vestígios
da poeta Ilane Ferreira Cavalcante
Local: Livraria Potylivros - Salgado Filho - Ao lado Natal Shopping
Dia: 09 de março 2010 - a partir das 19h.

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