terça-feira, 9 de novembro de 2010

Dois poemas de Marcílio Medeiros

MORTE TERMO TEMOR
Marcilio Medeiros


Aguarda: tom de neve.

Água parda proscreve

a rapidez. Agora tarda


Afeito: bom para sumir,

de terra desfeito, vai surtir

único e último efeito.


Fira: dom da faísca.

Fogo de pira confisca

quem só se reproduziu na lira.


Alarde: som de alaúde,

ar de notas arde sobre o ataúde,

antes que chegue a tarde.


OBSCURO
Marcilio Medeiros


sempre há uma brecha

raios a decepar flores

a nudez das cores reservadas

estiletes eretos na raspagem

da poeira que se esconde

e repousa na limitada

decomposição que lhe resta

as dobras dos móveis

sua carapaça, seu secreto

labirinto onde maturam

os dias passados em objetos


um sopro, uma falha

traz o arpão incendiado

a gralha silenciosa, mas munida

a riscar o olhar assustado

de coisas mal-dormidas

Marcilio Medeiros
(nascido em Caicó e que vive socado (sempre que pode) em São João do Sabugi, embora more atualmente em Aracaju, após 30 anos de Recife).
Está presente na blogosfera em http://vidaliteraria3.zip.net/

3 comentários:

  1. Segue Marcílio no nobre ofício de brincar a sério com as palavras.

    Sua poesia é experimento e vivência, é ritmo com rima, é cerebração que se faz na bigorna ao pulsar do coração.

    Esse menino já foi longe e só nos resta admirá-lo!

    Felizes devem estar os potiguares e, com toda razão hão de ter dele muito orgulho.

    Abraços, Marcílio.

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  2. Pela felicidade do comentário, só posso fazer minhas as palavras do Abel.
    Excelentes, Marcílio.

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