quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Henfil não aguentou os chatos de Natal por João da Mata Costa


No dia 04 de janeiro de 1988 Henfil falecia na flor da idade.
Ele foi um homem genial em sua curta e meteórica existência. Seu traço era
cortante e tinha a exigüidade e síntese da poesia. Criou muitos
personagens que tinham a cara e cacoetes dos brasileiros. Lutou
incansavelmente contra a ditadura e, junto com seus dois irmãos, formaram
um trio que dominou a cena brasileira nas décadas de exceção do regime
político brasileiro. Nos Estados Unidos seu desenho não fez sucesso.
Claro, o "tio Sam" era um dos seus alvos preferidos na destilação do
veneno. Veio morar em Natal e não foi feliz. Queria ouvir aboio e foi
ferido por outros cornos. Ubaldo veio a Natal em 78, e levou sua mulher e
alegria. Difícil colocar os pés novamente no chão e criar. Na criação ele
vivia e dava o troco. Ubaldo virou "o paranóico". Difícil no trato e na
convivência, como os homens geniais. Berenice não sabia que ele gostava
tanto dela. E ele só soube que a amava tanto quando a perdeu.

Em Natal morou na ponta do morcego e não gostou. Não conseguia produzir e
teve sua casa roubada. Foi morar na Amintas Barros, onde conseguiu se
isolar dos "chatos" ( imagina hoje com a lista do Rafael elevada à enésima
potencia) e produziu um pouco mais. Trabalhou nos manuscritos de
Henfil na China. Difícil foi tirar o nome da amada de suas produções
subseqüentes e no forno. Em Natal, deixou alguns amigos e traços. A "Pax
Turismo" mantinha na sua parede alguns dos seus desenhos originais.

A Associação dos Docentes de Ensino Superior (A ANDES) foi criada em 1980,
e pediu permissão para usar a Graúna do Henfil como logotipo em suas
camisetas.
Henfil, um grande cartunista ligado aos movimentos de esquerda, não negou
tal associação e seu traço esteve abrilhantando nossas camisetas e
documentos durante muito tempo. Infelizmente o amigo Henfil faleceu
precocemente e a Andes já não é mais a mesma. O seu desenho na camiseta é
só mais um desenho que marcou a história de um belo movimento da história
sindical do Brasil. Cresci junto e torcendo pelo Henfil. As cartas à sua
mãe era o que tinha de melhor na antiga "Isto é". Uma forma inteligente e
lúcida de passar as mensagens em tempo de censura. Saudades de você, meu
amigo. Pena que você não ouviu aboio na terrinha. Obrigado por tudo!


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