segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Dois Poemas de Zila Mamede


ARADO

Arado cultivadeira
rompe veios, morde chão
ai uns olhos afiados
rasgando meu coração.

Arado dentes enxadas
lavancando capoeiras
Mil prometimentos, juras
faladas, reverdadeiras?

Arado ara picoteira
sega relha amanhamento,
me desata desse amor
ternura torturamento.


O açude

Velha parede ponte limitando
os dois barrancos entre chão e chão.
Ao passadiço (em que montavam luas,
xexéus milipousavam no mourão)

a represança vinha da montante
em balde concha. Sobre a levação
do sangradouro retesou-se tempo
de quando as águas, nos rasgando a mão.

Desciam na revência, verdivida
amarelando cheiro de melão:
eram celeiros, peixes nos maretas

e em nós era ternura, era canção.
Sobras do antigo na menina extinta:
redorme na vazante a solidão.

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