segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Evoé Gumercindo

Por João da Mata

IV – Personalidades da Cultura do Rio Grande do Norte

Foi uma das personalidades mais cativantes que Natal conheceu. Baixinho e simpático. Nasceu em João Câmara (antiga Baixa Verde), em 1915. Foi um grande namorador e curtidor da vida que o levou de supetão numa noite festiva. Sua casa comercial fez história e as discotecas de muitos melômanos foram enriquecidas com os discos comprados ou doados por Gumercindo. Ficava ali na cidade alta onde hoje estar situado o Sebo Vermelho do amigo Abimael. A Casa da Música do Gumercindo vendia instrumentos musicais, partituras, livros, revistas e discos 78 rpm. Foi o maior vendedor dos antigos bolachões pesados e quebradiços. Uma musica de um lado outra do outro. Gostoso ouvir o Rei da Voz naqueles discos. Boa parte da grande e famosa coleção do Dr. Grácio Barbalho foi adquirida via Gumercindo. Um eterno apaixonado pela musica brasileira e erudita.

Tocava um violino que fez a alegria de Natal durante décadas. Ficou me devendo uma visita há muito tempo agendada. Um dia entrei na sua Casa/ templo de música, comprida e acolhedora, e ele me fez um teste de partitura. Foi fácil, pois tinha estudado piano durante cinco anos. Ele não sabia desse meu histórico. Claro, na escola de música tomei conhecimento dos seus livros sobre o mundo da música e seus compositores fabulosos. Adorava ler os livros de Gumercindo e participar do mundo e da vida de Beethoven, Chopin, Bach e tantos outros músicos fabulosos.

Escreveu um livro pioneiro sobre o musicólogo Cascudo; “Cascudo um Musicólogo Desconhecido” (1969), o excelente Trovadores Potiguares e muitos outros livros. Pouco antes de falecer veio à lume alguns livros sobre o Folclore, outra de suas paixões, pela editora Itatiaia. Lendas do Brasil, Adágios, provérbios e termos musicais e A gíria brasileira (1988). Foi presidente do Instituto de Música do Rio Grande do Norte e participou ativamente de tudo que se relacionasse com Musica em Natal. Poeta e compositor de inúmeras modinhas: “Minha Natal” com Zé Praxedi, “Segredos” com o maestro Esmeraldo Siqueira entre outras canções que faziam a alegria de uma cidade que forneceu grandes músicos para o Brasil e o Mundo.

Um dia ele me convidou para ir á sua residência onde abrigava uma bela biblioteca. Entre outras preciosidades lá encontrei uma Coleção/ Biblioteca de Obras árabes. Nesse dia ele me vendeu alguns livros de História da Musica e biografias de compositores.

Havia emprestado a Gumercindo um livro sobre a música popular brasileira no tempo de Getúlio Vargas. Meu amigo faleceu e não tive coragem de ir à sua casa em busca do meu precioso livrinho e muito menos de comprar os livros da sua biblioteca. Livros vendidos imediatamente após a sua morte e acumulados ao longo de um vida dedicada à Musica. Vida vivida no compasso e elegância de uma sonata para violino de Brahms. Vida a serviço da cultura do estado do RN.

Tempos depois encontrei o livro que tinha emprestado a ele em um sebo da cidade alta. Gumercindo era muito querido de todos. Um amigo que deixou uma enorme saudade e um vazio na cidade.

Freqüentador assíduo dos sebos e do uisque era um apaixonado pela vida que ele tragou sofregamente.

Evoé meu querido amigo.

Extraido do Blog Substantivo Plural

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